“A CIDADE DOS PIRATAS”, DELICIOSAMENTE ANÁRQUICO.

Por Celso Sabadin.
 
Numa cena do longa de animação “A Cidade dos Piratas” (que será exibido hoje, 24/07, às 20 horas no Petra Belas Artes), a produtora Marta Machado (representada em desenho animado), reclama com o diretor Otto Guerra (também em animação), que ela está cansada de dizer que o filme deve ser sobre piratas, que o edital foi ganho com este tema, que o longa se chama “A Cidade dos Piratas”, e que “não dá pra mudar isso agora”.
 
O desabafo metalinguístico é mais do que justificado: o filme teoricamente deveria abordar aspectos da vida da conhecida cartunista Laerte e de sua genial criação “Piratas do Tietê”. Porém, como já é cultural no Brasil, o longa assume a dificuldade de fazer cinema como linguagem. Torna-se, assim, propositalmente fragmentado, mistura animação com pitadas de live action, une personagens reais e imaginários, tudo junto e misturado num caldeirão de referências que pode ser classificado uma espécie de tropicália à gaúcha, pagando pedágio em São Paulo.
 
Deliciosamente anárquico, “A Cidade dos Piratas” coloca na boca de seu diretor e roteirista, aos 20 minutos de projeção, a seguinte fala autocrítica: “…e eu ainda não sei do que se trata o filme”. O resultado é criativo e divertido, chegando ao genial em alguns momentos, como o excelente início sobre a verdadeira história dos Bandeirantes, por exemplo.
 
Destaque do Festival Animamundi que começa hoje sua versão paulistana, “A Cidade dos Piratas” é para iniciados em mitologia, cultura pop e Fernando Pessoa. Não é pouco!