A CLÁSSICA QUESTÃO DO LIVRE ARBÍTRIO NO BELO NOIR “UMA VIDA MARCADA”.

Por Celso Sabadin.

Robert Siodmark, um dos vários talentos alemães que ajudaram a construir o charme e a beleza do cinema noir norte-americano, está presente no clássico “Uma Vida Marcada”, no volume 12 da coleção Filme Noir, da distribuidora Versátil.

O tema é a eterna questão do livre arbítrio. A partir do roteiro de Richard Murphy (que mais tarde escreveria “Pânico nas Ruas” e “Ratos do Deserto”), baseado no romance de Henry Edward Helseth, o longa mostra dois homens nascidos e criados na mesma vizinhança, e que tomaram rumos opostos na vida. Martin Rome (Richard Conte, o Barzini de “O Poderoso Chefão”) optou pelo crime, enquanto Candella (Victor Mature, eternizado em “O Manto Sagrado”) seguiu carreira policial. Entre ambos, um o adolescente Tony, irmão de Martin, oscila entre o dinheiro fácil da contravenção e o “sono tranquilo” da justiça. Atuando no bairro italiano de Nova York, o confronto entre a criminalidade e a legalidade será inevitável.

Assim como é inevitável perceber as influências de “Uma Vida Marcada” sobre a obra de cineastas ítalo-americanos contemporâneos, como Francis Ford Coppola e principalmente Martin Scorsese. As relações familiares, a ambientação italiana, a vida policial sempre em constante interseção com o cotidiano da colônia que invariavelmente tangencia o crime, tudo está lá. Elementos também presentes em vários filmes dos citados cineastas.

Porém, o que mais chama a atenção é a notável direção de fotografia de Lloyd Ahern Sr, que já havia fotografado “De Ilusão Também se Vive”, e que aqui extrai da noite nova-iorquina uma forte densidade dramática, envolvendo a cidade com belíssimas sombras típicas do gênero “noir”, e justificando com suas luzes o título original do filme (“Cry of the City”, o grito da cidade).

Duas atrizes então novatas estão presentes em “Uma Vida Marcada”: Debra Paget, no papel de Teena, aqui fazendo sua estreia; e Shelley Winters, interpretando Brenda, em pequena porém importante participação, num de seus primeiros papéis creditados no cinema.

Ben Hetch, um dos maiores roteiristas da Broadway e com várias indicações ao Oscar na bagagem, também colaborou no roteiro, mas seu nome não foi creditado no filme, assim como a produção executiva do grande Darryl Zanuck, chefão da 20th Century Fox.

Curiosidade: o papel do garoto Tomy (então com 18 anos) é interpretado por Tommy Cook, conhecido popularmente como o mordomo do seriado de TV “Casal 20”, atualmente (março de 2019) com 89 anos, e ainda atuando na TV.