“A COLEÇÃO INVISÍVEL” ABORDA A DECADÊNCIA DE UM BRASIL ANTIQUADO.

Tudo bem, não é nenhuma novidade. Após passar por um grande trauma, o protagonista, endurecido pelos percalços do destino, viaja até uma pequena cidade para tentar fazer um grande negócio. Lá chegando, vive um tenso período de dificuldades até perceber que os mais legítimos prazeres da vida podem ser encontrados (ou reencontrados) na simplicidade e na pureza do interior. Seja o interior do país, seja o interior de cada um de nós.

Lugar comum, concordo, mas se até o blockbuster “Carros” copiou a comédia romântica “Doutor Hollywood” para (re)contar exatamente esta história, por que não o cinema brasileiro? Desde que seja competência, como acontece no filme “A Coleção Invisível”, a empreitada é válida.

No caso, o protagonista é Beto (Vladimir Brichta, convincente), herdeiro de um antiquário, que viaja até uma fazenda no sul da Bahia para tentar comprar a coleção de artes de um decadente latifundiário (o último papel de Walmor Chagas, morto em janeiro de 2013).

Mesmo partindo de uma premissa pouco original, “A Coleção Invisível” faz coro com alguns trabalhos recentes do cinema brasileiro (“Boa Sorte, Meu Amor” e “O Som ao Redor”, para citar dois exemplos) no sentido de mapear aspectos de um país decadente. Se nos dois exemplos pernambucanos citados, vemos o desmoronar de um arcaico sistema social baseado em coronéis, aqui temos o claro retrato do pouco, quase nada, que restou do esplendor da região do cacau, no sul da Bahia. A decadência e a cegueira do velho latifundiário (ironicamente espelhada na cegueira e na morte próxima do próprio ator que o constrói) são elementos que perpassam todo o filme, contaminando não apenas a fazenda, fisicamente falando, como as relações humanas do seu pequeno núcleo social (onde se destaca a forte presença de Clarisse Abujamra).

Não se trata, contudo, de uma visão pessimista de Brasil. Através da trajetória do protagonista, o filme propõe um renovar de esperanças, um olhar para o interior que tem potencial transformador, a busca por um novo caminho de romper com as tradições de um passado invisível que não funciona mais. Não por acaso Beto administra um antiquário. Tudo no registro da possibilidade: a concretização ou não seria outra história.
Dirigido pelo francês radicado no Brasil Bernard Attal, o filme poderia, porém, ter um nome mais feliz. “A Coleção Invisível” não apenas é um título mercadologicamente desastroso, como revela o que jamais deveria revelar.