“A COMUNIDADE” INVESTIGA OS INCONCILIÁVEIS LIMITES ENTRE O INDIVIDUAL E O COLETIVO.  

Por Celso Sabadin

Viver em comunidade. Dividir despesas, teto e responsabilidades. Administrar sentimentos. Tomar decisões em conjunto, democraticamente. Incrível como estes conceitos – tão em moda nos anos 70 – parecem hoje estar a anos luz deste nosso século 21 marcado pela extrema individuação pessoal, onde cada um enfia o nariz no próprio celular sem conseguir perceber o que acontece ao lado. Neste contexto, “A Comunidade”, novo longa do dinamarquês Thomas Vinterberg, assume ares de um filme histórico secular ao mostrar uma realidade que pode parecer surreal às novíssimas gerações: o compartilhamento de vidas, não de informações virtuais.

Tudo começa quando o arquitetro Erik (Urich Thomsen) herda uma casa maior que as suas próprias necessidades. Para satisfazer a esposa Anna (Trine Dyrholm, melhor atriz em Berlim), e contra suas convicções, ele aceita transformar o lugar numa comunidade, onde morariam alguns amigos e até desconhecidos, desde que passassem pela aprovação da maioria. Como não poderia deixar de ser, aos poucos começam a aflorar os incontornáveis conflitos entre necessidades individuais e coletivas. A casa acaba se transformando num microcosmos da própria sociedade, com seus líderes, liderados, tensões, paixões, conformismos e sentimentos sufocados.

Coproduzido por Dinamarca, Suécia e Holanda, o filme levanta as eternas e infindáveis questões sobre os limites da convivência humana, e das nossas necessidades gregárias eternamente em conflito com as aspirações individuais. Uma equação aparentemente sem resolução e que desconhece fronteiras etárias, culturais, ou geográficas.

Depois de participar daquela infeliz jogada de marketing chamada Dogma 95,  Vinterberg tem demonstrado ser um cineasta de vários recursos, como pode ser comprovado em “Queria Wendy”, “A Caça” e agora neste notável e perturbador “A Comunidade”.

A estreia é nesta quinta, 1º de setembro.