A CORAGEM DA TENTATIVA SOLITÁRIA EM “13 MINUTOS”.  

Por Celso Sabadin.

As histórias sobre a Segunda Guerra Mundial parecem não ter fim. Novas pesquisas e estudos estão constantemente desvendando novos fatos e releituras sobre aquilo que já parecia consolidado. E, pelo visto, ainda há muito a se descobrir.

O filme “13 Minutos” aborda justamente um destes novos fatos sobre antigos acontecimentos: um atentado contra Adolf Hitler que permanecia na obscuridade histórica até há pouco. A primeira pergunta que vem à cabeça é que atrativos um atentado frustrado (já que são conhecidas as circunstâncias da morte de Hitler) teria para ser transformado em filme? Assistindo-se a “13 Minutos” percebe-se que são muitos estes atrativos. Muitos e fascinantes. Em primeiro lugar porque não é exatamente o atentando em si o foco do roteiro escrito por Fred Breinersdorfer e sua filha Léonie-Claire Breinersdorfer que conduz a narrativa. A questão maior que se apresenta é a possibilidade, apenas a possibilidade, de um único homem agindo solitariamente quase ter alterado radicalmente os rumos da História do mundo.

Georg Elster (Christian Friedel) era apenas um cidadão alemão como milhões de outros, sem participação política significativa, sem antecedentes militares, mas que antes mesmo do início da Guerra vislumbrou os contornos trágicos que a subida de Hitler ao poder acarretaria para a sua Alemanha. Nada de paranormalidade, nem vidência, nem informações privilegiadas: Georg tinha apenas bom senso, e sentiu nas ruas o furor destrutivo do poder desproporcional que crescia nas mãos dos nacional-socialistas. Decidiu acabar com tudo sozinho. E por muito pouco não conseguiu.

A Guerra não havia sequer se iniciado quando Georg foi preso e brutalmente interrogado. E se as cenas de tortura física são perturbadoras, chama também a atenção a total perplexidade que acomete seus torturadores: eles simplesmente não conseguem compreender porque alguém tentaria matar o homem que reergueu o país, o tão amado Führer que estava reconstruindo a Alemanha e lhe restituindo a autoestima perdida na I Guerra. Aos olhos da grande maioria, Georg era um louco. Sua sensação de solidão é absoluta.

Talvez este seja o principal mérito de “13 Minutos”: discutir a questão do Nazismo à luz de uma época onde ele ainda não havia sido historicamente condenado, abrir os olhos do público para a cegueira que invariavelmente se abate sobre as massas facilmente manipuláveis. Principalmente em tempos de crise. Julgar Hitler após a comprovação do horror histórico por ele causado é tarefa bem menos árdua que perceber os caminhos pelos quais ele lideraria seu povo, em plena época da histeria político-publicitária provocada pelos poderosos do momento.

Georg não somente teve esta percepção como também a coragem e a iniciativa suficientes para tentar eliminar o problema pela raiz. Não deu certo, mas ninguém jamais poderá acusá-lo de não ter tentado. Embora baseado em fatos acontecidos há praticamente 80 anos, do outro lado do oceano, o filme fala muito de perto ao Brasil de hoje, tão sem coragem e sem iniciativa. E nisto reside um de seus grandes pontos de reflexão.

A direção é de Oliver Hirschbiegel, que volta ao tema após o seus ótimo “A Queda”. A estreia é nesta quinta, 03/11.