A CRIATIVA MISTUREBA DE “BOB CUSPE, NÓS NÃO GOSTAMOS DE GENTE”

Por Celso Sabadin.

Tudo bem, admito: acho que paulistanos vão curtir o filme mais que o restante do país, meu. Afinal, não é todo mundo que acompanha – há décadas – o trabalho do cartunista Arnaldo Angeli Filho (mais conhecido apenas como Angeli) e sua divertida galeria de personagens psicóticos, outsiders e perturbados. Mas, para quem ainda não conhece, vale conhecer.

Depois de “Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll” (2006) e “Dossiê Rê Bordosa” (2008), chega a vez de “Bob Cuspe” ganhar sua versão cinematográfica em “Bob Cuspe, Nós Não Gostamos de Gente”.

Misturando gêneros (documentário, comédia, road movie) e  técnicas (animação com live action), o longa conta a história do protagonista-título (voz de Milhem Cortaz, melhor impossível), um punk que passou da idade de ser punk e, consequentemente, vive uma crise existencial nestes tempos caretas. Paralelamente, um Angeli documental (o autor é sempre chegadíssimo numa ego trip) confessa suas dúvidas e aflições para a equipe de filmagem, usando e abusando da metalinguagem.

Mais que o roteiro (de Leandro Maciel e do próprio diretor, César Cabral), “Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente”, encanta pela qualidade das ambientações e da animação, que arranca do tradicionalíssimo stop-motion uma estética de forte apelo dramático que contrasta brilhantemente com a acidez do humor dos personagens, potencializando suas camadas de – digamos – interpretação.  A trilha de André Abujamra e Márcio Nigro fecha este pacote audiovisual com embalagem de luxo.

Vencedor do principal prêmio da Mostra Contrechamp, no prestigioso festival de Annecy, na França, “Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente”, estreia nos cinemas nesta quinta-feira, dia 11 de novembro.