A DELICADEZA SUTIL E EMOTIVA DE “MEU VERÃO COM GLÓRIA”.
Por Celso Sabadin.
Com o decorrer do tempo – tenho certeza que vocês perceberam – novos “gêneros” cinematográficos estão sendo incorporados ao processo mercadológico de rotular filmes para facilitar suas vendas ao público. Os antigos Dramas, Romances, Comédias, Aventuras, etc., estão sendo substituídos por “Filme Lindos”, “Tiro Porrada e Bomba”, “Precisa Ver” e – a nova invenção de muitos influenciadores: “Filmes que eu Adoro”.
Neste processo, estreou na última quinta-feira o francês “Meu Verão com Glória”, que já pode ser colocado diretamente na prateleira dos melhores “Filmes Fofos” dos últimos tempos. Se ainda existissem prateleiras de filmes.
Vale, porém, um alerta: o “fofo” aqui não está atrelado ao conceito de superficialidade, que geralmente acompanha o adjetivo. Pelo contrário, o longa aborda com profundidade temas como solidão, colonialismo cultural, afetos, perdas e abandonos. E ainda assim é muito fofo.
Atênue e poética linha de roteiro que costura “Meu Verão com Glória” mostra a apaixonada e mútua relação entre a garotinha francesa Clèo (a estreante Louise Mauroy-Panzani, um verdadeiro achado) e Glória (Ilça Moreno Zego), sua babá africana. E só vou falar isso. O restante precisa ser visto e sentido, om destaques para a extrema delicadeza da direção (com seus generosos closes que estreitam as relações de intimidade do público com os protagonistas), a sutileza de seu estilo narrativo, os necessários silêncios de introspecção e reflexão, e seu ritmo preciso.
O filme abriu a Semana da Crítica no Festival de Cannes de 2023.
Quem dirige
A diretora Marie Amachoukeli, além de ”Meu verão com Glória”, tem em sua filmografia os curtas premiados “Forbach” (2008), “C’est Gratuit pour les Filles” (2009) e “Demolition Party” (2013), a animação “I Want Pluto to be a Planet Again” (2016) e seu primeiro longa, “Party Girl” (2014), pelo qual ganhou o Camera d’or no Festival de Cannes (Melhor primeiro filme).