A DENSIDADE PERTURBADORA DO RUSSO “TESNOTA”.

Por Celso Sabadin.

Cabardinos. Eles são um grupo étnico secular da região do Cáucaso, concentrado na República de Kabardino-Balcária, da Federação Russa. Atualmente são cerca de meio milhão de pessoas. E eu nunca sequer tinha ouvido falar nesta palavra, cabardino. Nem sabia da existência de uma república chamada Kabardino-Balcária. O tema se tornou de interesse para mim ao assistir ao drama russo “Tesnota”, que entrou em cartaz no Brasil no último dia 9 de agosto.

No filme, Ilana (a estreante Darya Zhovnar, melhor atriz no Festival de Montreal e pela Associação dos Críticos da Rússia), é uma garota russa que não se encaixa nos chamados padrões convencionais de comportamento. Ela adora trabalhar como mecânica na oficina de seu pai, recusa empregos supostamente melhores, não gosta de vestidos, veste-se com macacão de operária e – “pior” – namora um rapaz cabardino. Ilana e seus pais frequentam uma comunidade judaica, mas ela não se mostra nem um pouco entusiasmada pelos preceitos da religião. E não por acaso: quando sua família, vitimada por um sequestro, recorre em desespero à comunidade, o líder religioso local lhes acena com uma proposta obscena de tirar proveito em cima da tragédia.

A trajetória da garota – pressionada por preconceitos sociais e dramas familiares – é a linha condutora deste filme escrito e dirigido pelo jovem (27 anos) Kantemir Balagov, por sinal nascido na tal república Kabardino-Balcária citada acima. Mesmo sendo este apenas  seu segundo longa, “Tesnota” demonstra maturidade e segurança na direção. Imagens de força potencializada pelos seus estendidos tempos de exposição em tela solidificam o denso universo da protagonista, obtendo assim uma profundidade narrativa intensa e perturbadora. Cores escuras, planos claustrofobicamente fechados e filmagens noturnas acentuam o abismo humano deste grupo de personagens que se percebem perdidos por entre convenções e violências sociais dos mais diversos tipos.

“Tesnota” (aliás, não sei o que o nome significa) recebeu várias indicações e prêmios em festivais internacionais, incluindo o da crítica internacional na mostra Un Certain Regard, em Cannes. E me fez pesquisar sobre Cabardinos.