A DILACERANTE SIMPLICIDADE DE “CAFÉ, PÉPI, LIMÃO”.
Por Celso Sabadin.
Depois de arrancar aplausos em festivais e de estrear em Salvador, chega a São Paulo nesta quinta-feira, 24/04, mais um ótimo filme baiano. Trata-se de “Café, Pépi, Limão”, que vem fazer coro com outras marcantes obras recentes da produção cinematográfica da Bahia, como “Receba!”, “Saudade Fez Morada Aqui Dentro” (pra mim, o melhor filme brasileiro lançado no ano passado) e mais um que eu não consigo lembrar o nome de jeito nenhum.
Força, simplicidade e uma autenticidade quase documental fazem o tripé do longa. Na fronteira entre a adolescência e a vida adulta, os três protagonistas do título se equilibram precariamente sobre um outro tipo de limite: o a dignidade humana.
Esbanjando simpatia, os meninos Café (João Vitor Souza) e Limão (Leonardo Lacerda) se viram como podem nos semáforos soteropolitanos, lavando para-brisas ou fazendo malabarismo. O teto deles é um viaduto e, num bom dia, eles se esbaldam com pão, manteiga e leite.
Após sofrer uma terrível violência doméstica, junta-se aos dois a garota Penélope (Mari Nascimento), logo apelidada por Café como Pépi. Mais que simples apelidos, Café, Pépi e Limão são verdadeiros nomes de batalha destes pequenos guerreiros que lutam diariamente pela sobrevivência. São três mosqueteiros sem espadas, munidos apenas de resistência e de uma certa alegria ingênua, armas frágeis demais para enfrentar a realidade brasileira.
Com um realismo dilacerante que contrasta fortemente com a utópica alegria dos protagonistas, o filme traça um crudelíssimo painel de nossas históricas e intermináveis mazelas nacionais, potencializada nos últimos anos pela epidemia de ódio e intolerância que assola o Brasil.
“Café, Pépi e Limão” tem direção de Adler Kibe Paz e Pedro Léo Martins, que também assina o roteiro. O filme teve seu lançamento mundial no La Fiesta Del Cine – Festival Latino de Cinéma, em Nice, França. No Brasil foi exibido em diversos festivais, tendo recebido o Prêmio Especial do Júri e prêmio especial de maquiagem no XIX Panorama Internacional Coisa de Cinema (Salvador – BA), prêmio de melhor ator (João Vitor Souza), no Festival Satyricine Bijou 2024 (São Paulo – SP), prêmios de melhor direção, fotografia, direção de arte e melhor ator no FECINE – Festival de Cinema Nordestino (Areias – PB), além do prêmio de Reconhecimento Especial, para o ator João Vitor Souza no LABRFF – Los Angeles Brazilian Film Festival (Los Angeles – EUA). Também foi selecionado para 31º Festival de Cinema de Vitória.