A DOCE INGENUIDADE DE “MAMBO MAN”.

Por Celso Sabadin.

Para curtir o filme “Mambo Man – Guiado pela Música” é preciso, antes de mais nada, que o público se desarme de alguns conceitos. Principalmente daquela velha ideia do cinemão comercial no qual tudo é perfeitinho, tudo dá certo. Tanto na estética, como no conteúdo.

Coproduzido por Cuba e Reino Unido, “Mambo Man – Guiado pela Música” (título que, na verdade, não faz muito sentido) carrega uma ingenuidade quase pueril, uma imperfeição, digamos, até rudimentar de se fazer cinema que certamente causará estranhamento aos paladares mais industriais.

Tudo gira em torno de JC Montero (Héctor Noas), sujeito boa praça, pai de família, um pouco fazendeiro, um pouco produtor musical, respeitado e querido por todos na pequena – e linda – comunidade de Bayamo, em Cuba. Sua situação financeira, porém, não anda das melhores, fruto de problemas estruturais históricos da ilha de Fidel, embargo norte-americano aí incluído. “Quando temos água, não temos sementes; quando temos sementes não temos água”, diz JC. Tudo piora quando JC se vê tentado a fazer um negócio que – visivelmente – se configurará numa grande roubada.
Frágil, o roteiro de Mo Fini e Paul Morris não deve ser levado muito a sério. O filme vale mesmo pelas participações de astros lendários da música cubana que entram e saem da trama mais ou menos da mesma forma que os números musicais carnavalescos entravam e saíam nas chanchadas da Atlântida: desconectados da trama. Entre eles, Candido Fabre, Alma Latina, Eliades Ochoa (do Buena Vista Social Club), Juan de Marcos Gonzalez (Afro-Cuban All Stars) e David Alvarez.

Supreendentemente, “Mambo Man” já levantou mais de 50 premiações e indicações em vários festivais. E mais surpreendentemente ainda, está neste momento (26 de fevereiro de 2021) com nota 9,5 no Imdb, o que só pode sugerir que a equipe e os amigos entraram em peso no portal para votar.

Dirigido por Edesio Alejandro (muito mais músico que cineasta) e Mo Fini, “Mambo Man” está longe de ser aquele filme que você recomenda para os amigos. Mas traz uma espécie de pureza irregular que desafia os cânones tradicionais que, por si só, já valem a pena. E com um final absolutamente inesperado.
A estreia é nesta quinta-feira, 25/02, na plataforma Cinema Virtual.