A DOLORIDA DIGNIDADE SILENCIOSA DE  “UMA MULHER FANTÁSTICA”.  

Por Celso Sabadin.

À dor da perda se soma, imediata e inexoravelmente, a dor da humilhação. E a estas profundas tristezas é preciso resistir com dignidade. É trágica e cruelmente real a trajetória de Marina (Daniela Vega), uma garçonete que da noite para o dia se vê privada de seu grande e proibido amor, ao mesmo tempo em que é agredida, humilhada e exilada pelo simples fato de assumir suas posturas e desejos.

Marina é a “mulher fantástica” desta bela coprodução entre Chile, Alemanha, Espanha e Estados Unidos. E na contramão de tantos heróis “fantásticos” do cinema atual, o seu maior superpoder é a sua dignidade humana. Marina resiste; apenas resiste. Com força rara e emocionante.

Escrito e dirigido pelo chileno Sebastián Lelio, “Uma Mulher Fantástica” marca um novo mergulho do cineasta no universo da exclusão feminina. Em seu trabalho anterior, “Glória” (2014), Lelio abordou a solidão da terceira idade, e agora – mantendo seu estilo intimista e reflexivo – trata dos preconceitos contra quem ousa ser diferente. Ou simplesmente quem ousa amar abertamente e sem barreiras desafiando silenciosamente uma sociedade retrograda e conservadora.

Rodado em Santiago, “Uma Mulher Fantástica” venceu o prêmio de roteiro no Festival de Berlim, onde recebeu também menção honrosa do Júri Ecumênico e a premiação de melhor filme na competição paralela Teddy Bear, destinada a produções de temática LGBT.

A estreia foi em 7 de setembro.