A EMOCIONANTE TERNURA DE “DESAJUSTADOS”.

Por Celso Sabadin.

Em tempos de intolerância, atentados e muito ódio sendo destilado, assistir a um filme como “Desajustados” é uma bênção. Admito que, nos primeiros minutos, olhei para o filme meio torto, desconfiado que seria mais um daqueles trabalhos sobre incomunicabilidade e pessoas que não se encaixam na sociedade (geralmente grandonas, como em “Gigante” e “Mamute”) dos quais os produtores que fazem filmes para ser premiados em festivais já conhecem muito bem a fórmula. Mas não é.

“Desajustados” não é uma repetição de outros filmes “de arte” similares. Ele tem vida própria ao narrar o cotidiano do grandalhão Fúsi (Gunnar Jónsson, ótimo) um solitário carregador de malas em esteiras de aeroportos cuja vida se resume ao enfadonho emprego e ao seu hobby de recriar, em maquetes, batalhas da Segunda Guerra Mundial. A mesmice e a mediocridade de sua existência são quebradas quando ele, mesmo contra sua vontade, acaba conhecendo Alma (Illmur Kristjánsdóttir). E quando, a partir daí, todos os cinéfilos começam a imaginar que o filme seguirá pelos já traçados e desgastados caminhos do “drama romântico que todos nós conhecemos”, “Desajustados” começa a surpreender.

O roteirista e diretor Dagur Kári, nascido em Paris, radicado na Islândia e formado em Cinema na Dinamarca, confere ao filme uma forte aura de ternura, ao retratar um personagem que oscila entre o que seria um indesejado “desajustado” do título em português e um amigo mais que dedicado que todos gostaríamos de ter um dia. Dono de uma paciência, de uma tolerância e de um coração que o classificaria, sob o ponto de vista dos dias de hoje, novamente como “desajustado”.

Produzido por Islândia e Dinamarca, o filme levou três importantes prêmios no Festival Tribeca, de Nova York, além de conquistar premiações em Valladollid e Cairo.