A ENCANTADORA SIMPLICIDADE POÉTICA DE “AS DUAS IRENES”.

Por Celso Sabadin.  

Algum lugar do interior do Brasil, em algum momento do passado. Algum lugar onde festa de debutante é importante; algum momento onde Rita Pavone e Celly Campelo fazem a trilha sonora da vida, e o cinema é o lugar onde se vai para beijar, não importa o filme em cartaz. É neste contexto um pouco bucólico, um pouco saudosista, que Irene, de 13 anos, irmã do meio de uma família de classe média, descobre que seu pai, Tonico (Marco Ricca, novamente ótimo) tem outra família. E na mesma cidade. E que nesta outra família há outra Irene, sua meia Irmã.

Lentamente, os conflitos de desenvolvem de maneira poética e envolvente. Como lidar com a situação? Contar ou não contar? Para quem? E quando? Aguentar? E quanto? A primeira Irene silenciosamente se remói em dúvidas, ao mesmo tempo em que necessita tratar de um assunto que ninguém pode tratar por ela: crescer; descobrir sua própria sexualidade.

A relação que se desenvolve entre as duas Irenes ganha grande força cinematográfica na simplicidade e na delicadeza que o filme destila. O não dito, o não falado, o não mostrado, aquilo que existe apenas nos planos do medo e da indignação cresce nos silêncios e nos olhares de todo o afiado elenco. Tudo pintado com uma belíssima paleta de cores pastéis, esmaecidas como numa velha fotografia esquecida em algum canto do velho armário. O mesmo dos discos de Rita Pavone.

“As Duas Irenes” é uma mais que promissora estreia no longa metragem de Fabio Meia, aqui amparado por uma equipe recheada de talentos femininos.