A EXPLOSÃO RACIAL DE “CABEÇA DE NÊGO”.

Por Celso Sabadin.

Entre as várias expressões de raízes racistas da língua portuguesa, “Cabeça de Nêgo” é uma delas. Representa um tipo de explosivo, uma espécie de bombinha de festa junina, só que mais potente.

No filme “Cabeça de Nêgo”, que estreia nesta quinta, 21/10 nos cinemas brasileiros, a explosão é outra. E ainda mais potente.

Com direção e roteiro de Déo Cardoso, o longa mostra a revolta de Saulo (Lucas Limeira), jovem negro que sofre um insulto racial em sua escola e é injustiçado pelo professor. Ele decide então empreender um protesto pacífico, recusando-se a abandonar o prédio da instituição, enquanto não se fizer justiça. Sua inspiração é um livro sobre os Panteras Negras.

O ato de Saulo, seguido de sua tenacidade, extravasa os muros da escola, ganha a mídia, e expõe os alicerces apodrecidos do racismo estrutural que corrói a alma brasileira desde sempre.

Rodado em Fortaleza, “Cabeça de Nêgo” envolve e cativa pela sua simplicidade narrativa e um extremo realismo que causa imediata empatia com seus protagonistas. Impossível não se envolver e se identificar com a perseverança daquele jovem que, mais que uma escola mais justa, quer uma sociedade menos hipócrita a minimamente respeitosa. E luta por isso sem panfletarismos rasos.

A estreia nacional de “Cabeça de Nêgo” ocorreu com muito sucesso na Mostra de Cinema de Tiradentes em 2020. Foi também vencedor do Troféu Mucuripe de Melhor Longa da Mostra Olhar do Ceará, eleito pelo júri oficial e foi eleito Melhor Longa-metragem Cearense, pela Associação Cearense de Críticos de Cinema em 2020. O filme também foi exibido em diversos outros festivais, como Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba; Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África e Caribe; Mostra Retroexpectativa 2020/2021 do Cinema do Dragão; Festival de Cinema de La Plata (Argentina); San Francisco (EUA), Santa Barbara International Film Festival (EUA), entre outros.

Filho de pais brasileiros, nascido nos Estados Unidos e naturalizado brasileiro, o diretor e roteirista Emerson Déo Cardoso tem especialização em Dramaturgia, pelo Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura (Fortaleza, CE), e Mestrado em Cinema pela Universidade de Ohio, Estados Unidos. Após roteirizar e dirigir 5 curtas-metragens de ficção e 2 documentários, “Cabeça de Nêgo” é o seu primeiro longa ficcional.