A EXTREMA SENSIBILIDADE E O CARISMA DE “A PEQUENA GAROTA”

Por Celso Sabadin.

E eis que no apagar das luzes do ano velho (como diziam os antigos locutores) surge nos cinemas do Brasil um dos melhores filmes de 2020: “A Pequena Garota”.

Coproduzido por França e Dinamarca, o longa documenta a trajetória de Sasha, de 7 anos, em sua luta rumo à dignidade. Criança feliz, consciente, extremamente expressiva e sensível, a única reivindicação de Sasha e sua família é que a sociedade aceite a garota como ela é: uma garota. Embora tenha nascido em um corpo masculino, Sasha sempre soube que era menina. E seus pais sempre a apoiaram. Por que a isso se torna uma questão complicada no meio social? O que, afinal, esta sociedade tanto teme?

O que mais chama a atenção em “A Pequena Garota” é a extrema delicadeza da direção de Sébastien Lifshitz – também roteirista do filme – que em seus trabalhos anteriores já abordara temas como a adolescência e a homossexualidade na terceira idade. Confesso que demorei uns bons 15 ou 20 minutos para compreender completamente se eu estava vendo um documentário ou uma ficção intimista, tamanhas a sensibilidade, a dignidade e o domínio de câmera na construção da personagem e na abordagem do tema.

A protagonista, por sua vez, é de um carisma ímpar, raro, capaz de provocar no público um altíssimo grau de empatia e catarse.

Sua data de estreia no Brasil – na véspera de Natal – certamente deve ter distanciado o filme de seu público, mas ele continua em cartaz, e merece ser descoberto.

“A Pequena Garota” ganhou o prêmio de Melhor Documentário nos festivais de Chicago, Hong Kong e no European Film Awards, além de ter sido selecionado m Berlim.