A FALÊNCIA DAS SOCIEDADES EM “DESEJO, PAIXÃO E RAZÃO”.

Por Celso Sabadin.

Uma sociedade marcada pelo tédio. Estudantes à beira da formatura, desinteressados pelo futuro, gastam suas horas girando de moto sobre seus próprios eixos, sem sair do lugar, ou em noitadas turbinadas a álcool e drogas que invariavelmente terminam em violência. Adultos descontentes com seus casamentos, optam pelo silêncio e pela fuga através de traições. Quase ninguém parece assumir o que pensa ou o que sente. E quem assume é hostilizado.

Este painel de vida vazia enfocado em “Desejo, Paixão e Razão” se ambienta em algum lugar do interior da Áustria, mas poderia estar em qualquer canto do mundo: é universal. A falta de objetivos, a intolerância contra o diferente, a hipocrisia, o niilismo, a falência das instituições… tudo converge para uma dolorida reflexão da nossa contemporaneidade.

A jovem Mati (Sophie Stockinger) e suas dúvidas surge como um fio condutor protagonista da situação, até para efeitos dramatúrgicos, mas a sociedade amorfa e despersonalizada está presente igualmente em cada cena.

Ainda que austríaco, o drama se apossa de uma palavra latina para seu título original – “L´Animale” – em referência ao animal interior que habita sufocado em cada um de nós, como diz a canção que pontua a trama. Um animal que, no caso, permanecerá embargado e reprimido.

Só chama a atenção – no caso, negativamente – a direção de arte, que permeia praticamente o filme inteiro com excessos de tons de verde e ocre. A menos que haja neste estilo uma tentativa de ironizar propagandas de banco, o recurso se mostra cansativo e redundante.

Com direção e roteiro de Katharina Mückstein, “Desejo, Paixão e Razão” foi premiado nos festivais de Seul e Munique, entre outros, e estreou em 22 de julho na plataforma Cinema Virtual.