“A FAMÍLIA DIONTI” ABRE O FESTIVAL DE BRASÍLIA. LEIA A CRÍTICA.

por Cid Nader, de Brasília.

A Família Dionti
Direção: Alan Minas
RJ, 93 minutos, 

Manoel de Barros, falecido tão recentemente, poeta do Centro-Oeste, escritor dos Matos-Grossos, que tem a obra literária recente mais singela e bela do país, é parte importante desse longa-metragem de Alan Minas: mais do que parte importante, por diversos momentos, literalmente, as falas que embalam os caminhos dos personagens. E se isso por si só já traria qualidade a mais no texto, segurança de que no que tange ao dito, ao que conduz um filme que não pelas imagens. Saber usar essa potência é ouro a ser bem administrado por um diretores de cinema.

Alan tenta de todas as maneiras fazer da beleza de das falas poéticas o carro-chefe de A Família Dionit, e por alguns instantes até consegue isso. Por alguns momentos, as falas jorrando das bocas de irmãos, pai e uma garota do circo que passa fugazmente pela cidade deles, entre naturalidades e artificialidades (artificialidade que pode ser notada nas falas trazidas da literatura, já lá dentro dos livros, pois construídas assim, já que textos que tratam de falar da natureza e dos homens, mas sob observações que alteram o que é “só” dos ciclos naturais, já que as intenções de poetas e prosadores não são as dos jornalistas, dos cientistas), conseguem sustentar trechos do filme, de forma surpreendentemente até bonita: principalmente quando em cenas de matiz “realista”, quando o poder desses textos se fazem eles os responsáveis pela imaginação do incomum. Por alguns instantes estamos diante de uma obra que se revelará pelo “gesto obtido da imaginação”, mais do que pelo que é o impresso na tela por imagens…

E então o filme toma o rumo que lhe parecia o destino traçado desde o início: sem saber ao certo a razão: desde algum instante, a impressão era de que a obra não se sustentaria. Passa a se valer demais de algo que remete a uma paridade ao que é de realismo fantástico muito comum na pobreza disfarçada de algumas minisséries de TV. como que desautorizando os textos, como que surrupiando-lhes a beleza natural para forçar maquiagem, e de sequências muito musicadas, de tom piegas; e se pode soar estranho alguém me ler falando que imagens impuseram perda a um filme (eu, defensor insano delas sobre o bem e o mal no cinema). talvez girando o foco, isso sirva para notar o quanto o trabalho foi falho, justamente como cinema. As brincadeirinhas recordatórias do circo são somente “brincadeirinhas” (se bem que o fantástico imposto aos bonecos de pano, na casa dos Dionti seja “fantástico” bem bacana, mais fiel às belezas literárias), algumas sequências lamuriantes, ou as do médico, acabam por criar matiz que cria opacidade retira brilhos que haviam sido conquistados, e trava faz o fluxo tropeçar.

Mas nada como escrever e ir deixando a mente aberta: quando “falava” dessas fraquezas do filme, foram vindo à mente momentos na casa, momentos da fraternidade agindo forte num lar formado por perdas, as brincadeiras dos garotos da escola cobrando “namoro”, alguns outros de ação entre a garota e o garoto, que num primeiro instante pareceram piegas e neste exato instante em que bato os dedos no tecla me vêm à mente mais bem casados com a proposta no quinhão literário… Talvez seja filme que sofra mais transformações com o decorrer das horas – mesmo tendo saído da sessão com certezas sobre suas “poucas virtudes” e muitas fraquezas. Mas creio que as coisas boas vindas nos últimos instantes não cresçam em volume, e que as ruins não sofrerão melhoras.

Ontem, após a sessão, em conversas com amigos surgia a questão sobre a razão deste filme estar entre os escolhidos para um festival deste porte? Ao mesmo tempo em que creio na necessidade do texto urgente durante os eventos, na sua necessidade, balanços finais podem ser os que se encarregarão sobre acertos, erros, fraquezas ou estranhezas numa seleção. À frente alguma resposta mais concreta virá.

Texto publicado sob licença de www.cinequanon.art.br

 

 

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