“A FAVORITA DO REI” E OS PRAZERES DA CORTE DECADENTE.
Por Celso Sabadin.
A atriz e diretora francesa Maïwenn Aurélia Nedjma Le Besco – que já se autodenominou artisticamente como Quin-Quin e agora assina somente com seu primeiro nome – escreve, produz, dirige e vive o papel título de “A Favorita do Rei”, em cartaz em cinemas brasileiros deste quinta-feira, 29/11.
A partir de uma caso real, ela interpreta Jeanne Gomard de Vaubernier, filha de um relacionamento proibido entre um monge e uma cozinheira que, revoltada com os hábitos castradores do convento onde foi escondida, assume um comportamento contestador que a levará à prostituição. Quer o destino, porém, que Jeanne se torne a cortesã preferida do Rei Luís XV (Johnny Depp), tornando-se assim uma espécie de primeira dama alternativa da Corte, cujos privilégios escandaliza a decadente Versailles pré-Revolução.
O longa segue os cânones dos dramas de época clássicos, com muita pompa e circunstância na reconstituição do período (incluindo cenas. filmadas no próprio palácio), exuberância nas cores, luzes, figurinos e maquiagem, além, claro, das necessárias e inevitáveis ridicularizações críticas ao falido sistema monárquico. Tudo potencializado por um caprichado nível de produção e enfraquecido por uma redundante narração em off.
Não deixa de ser irônica a escolha de Johnny Depp para interpretar Luís XV. Não exatamente pelo choque de nacionalidades (afinal, Joaquim Phoenix viveu Napoleão), mas pela proximidade dos, digamos, “personagens”: Depp sai aqui pelo menos momentaneamente de sua condição de “cancelado”, em função das acusações que teve por violência doméstica, para viver um rei igualmente “cancelado” por desrespeitar sua viuvez com uma cortesã. A arte imita a vida, ou vice-versa?
Recusando dublagem e entregando suas falas em francês, Depp teria obtido o papel após a diretora ter recebido uma resposta negativa de um ator francês (que a produção prefere deixar anônimo) e de um desencontro de datas do intérprete que seria a segunda opção de Maïwenn: Gérard Depardieu… igualmente cancelado, ultimamente.
Filme de abertura no Festival de Cannes, “A Favorita do Rei” estreou em cinemas de São Paulo, São José dos Campos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Recife.