“A FILHA” CONTRAPÕE A PAZ DA MENTIRA À DOR DA VERDADE.

Por Celso Sabadin.

Até que ponto se deve defender a verdade a qualquer custo? Esta é uma das inquietantes questões propostas pelo perturbador “A Filha”, produção australiana estrelada por dois dos maiores astros daquele país: Geoffrey Rush e Sam Neil (nascido na Irlanda, mas radicado na Austrália).

A partir da peça “O Pato Selvagem”, escrita por Ibsen em 1884, o roteiro de Simon Stone – que também dirige o filme – coloca em rota de colisão um pequeno e bem delineado grupo de personagens: um núcleo familiar formado por pai, mãe e a filha do título; um milionário às vésperas do casamento com uma jovem que foi sua empregada doméstica; e um visitante vindo de longe (tanto no tempo, como no espaço), um mensageiro da verdade que trará consequências avassaladoras para todos. Incluindo o espectador. E é melhor não dizer mais nada.

É notável a trajetória do jovem (32 anos) diretor Stone: mais conhecido na Austrália como ator de teatro, seriados de TV e filmes de menor repercussão, “A Filha” é seu primeiro longa como diretor, uma estreia que lhe rendeu 10 indicações no Australian Academy Awards, sendo vencedor em três delas, incluindo melhor  roteiro adaptado, escrito por ele mesmo.

As premiações são merecidas. “A Filha” apresenta um envolvente clima de mistério e suspense que explode com vigor num drama familiar pungente, extraindo ótimas interpretações de todo o elenco, ao mesmo tempo em que levanta relevantes questionamentos sobre ética e poder. O desolamento, amplitude e solidão das locações – marca bastante recorrente do cinema australiano – aliados a um reflexivo tempo de montagem, ajudam a sublinhar a dramaticidade do tema.

A estreia é nesta quinta, 4 de maio.