A FLUIDEZ ENCANTADORA E NONSENSE DE “BIZARROS PEIXES DAS FOSSAS ABISSAIS”.

Uma mulher que não pode comer feijão, uma nuvem com incontinência urinária e uma tartaruga com TOC se unem para encontrar os cacos de um vaso quebrado. Mas os rinocerontes espaciais que expelem suco de graviola sem açúcar estão dispostos a impedi-los.
Apenas por esta brevíssima sinopse já é possível notar que “Bizarros Peixes das Fossas Abissais” passa longe daquela formatação comercial, engessada e desgastada das animações que geralmente dominam o mercado audiovisual. Que bom!
Chegando aos cinemas nesta quinta-feira, 25/01, o filme marca a estreia na direção de longas de Marcelo Marão, premiadíssimo animador e diretor brasileiro de – até o momento – 14 curtas.

Esbanjando um encantador despojamento tanto técnico quanto temático, “Bizarros Peixes das Fossas Abissais” tem o gigantesco mérito da coragem de não se prender a normas e regras, fato cada vez mais raro nestes tempos de adoração ao deus-mercado.

Fiel às origens da animação como espaço de criatividade e experimentação, o filme é ao mesmo tempo vigoroso e leve em seus traços fluidos, vivamente despretensioso em sua formatação libertária, e coeso na concepção de seus personagens. Afinal, não é toda protagonista que tem o poder de adaptar seus pulmões para respirar sob a água, muito menos transmutar sua bunda em um gorila.
Marão explica que “a animação 2D tradicional é utilizada seguindo a técnica chamada de full animation, na qual todo o personagem se move e não apenas partes dele: se ele corre, todo o personagem é redesenhado para movimentar os braços e pernas e também os cabelos e roupas, criando um movimento mais fluido essencial para as – muitas – cenas de ação e de luta deste que é um filme de super-heroína, mas simultaneamente de humor exagerado”.

O cineasta conta que fez seu primeiro longa da mesma lógica que seus curtas: sem model sheet, sem storyboard e sem animatic, improvisando as cenas de um modo teatral, em ordem cronológica. “A primeira cena do filme foi a primeira a ser animada e a última foi a última a ser animada. A narrativa e o design dos personagens evoluíam à medida que o filme avançava, assim como uma graphic novel autoral onde o design do personagem se altera com o passar das páginas. E eu não queria ‘dirigir’ enquanto uma equipe animava e desenhava. Eu queria desenhar e animar também, de preferência a maior parte do filme”, conclui.

A estreia de “Bizarros Peixes das Fossas Abissais” é precedida de uma mais que vitoriosa carreira em festivais nacionais e internacionais, sendo premiado tanto no Brasil como também em Portugal, Suécia e Argentina,

Atualmente Marão trabalha no seu próximo projeto, “O elevador”, longa de animação 2D também voltado para adultos e jovens adultos, que está em pré-produção e acabou de receber seu primeiro aporte pela Riofilme.

Com as vozes de Natália Lage, Rodrigo Santoro, Natália Lage e Guilherme Briggs, “Bizarros Peixes das Fossas Abissais” recebeu Menção Honrosa dentro da Première Brasil – Novos Rumos no Festival do Rio deste ano. Também recebeu o prêmio de Melhor Longa pelo Júri Popular do MONSTRA Festival, em Lisboa, e fez parte da programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e do Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano de Havana (CUBA) e da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
A estreia acontece em cinemas de Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Maceió, Manaus, Niterói, Palmas, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória.

Quem é o diretor

Marão é formado na Escola de Belas Artes da UFRJ e diretor de animação, tendo realizado catorze curtas metragens (EU QUERIA SER UM MONSTRO, ENGOLERVILHA, O ANÃO QUE VIROU GIGANTE, ATÉ A CHINA e outros) e participado de mais de trezentas animações para publicidade, internet, TV e cinema.
Foi Presidente-fundador da ABCA (Associação Brasileira de Cinema de Animação), professor no curso de pós-graduação em animação da PUC durante sete anos e desde 2003 é coordenador do Dia Internacional da Animação e sócio-gerente da produtora Marão Desenhos Animados. Seus curtas foram selecionados para 642 festivais de cinema em mais de quarenta países e receberam 123 prêmios. Marão foi homenageado no 20º Anima Mundi e também recebeu retrospectivas nos festivais Baixada Animada, Iguacine, Animanima (Sérvia), ReAnimania (Armênia), Anima BR (Angola) e ANIMAGE (PE).