A FORÇA DE “VALENTINA” ESTREIA QUINTA, 19/08.

Por Celso Sabadin.

Logo na primeira sequência percebe-se que “Valentina” é um filme diferenciado: três amigas adolescentes tentam entrar em uma balada, mas uma delas, com documento falso, é barrada pelo segurança. Surge um clima de decepção, pois a festa seria a despedida de uma delas. A garota barrada decide, então, apresentar um outro RG, este verdadeiro, provocando um estranhamento no espectador. Se ela tinha documento verdadeiro, por que apresentou um falso? Fica-se então sabendo que o RG até poderia ser verdadeiro, mas não representava mais a sua portadora, que havia trocado de sexo. Raul, na ultrapassada representação oficial, havia se transformado em Valentina (vivida pela atriz trans goiana e influenciadora digital Thiessa Woinbackk), na dura realidade da vida. E será esta valente Valentina que desenvolverá a potente narrativa do filme daqui por diante.

Após o vigoroso e criativo início, acompanha-se a tentativa da protagonista de empreender – em outra cidade – a sua saga de transformação humana e social. Acompanhada e apoiada apenas pela mãe (Guta Strasser, ótima), a garota busca numa pequena cidade do interior de Minas recomeçar uma nova vida, atropelando as primeiras dificuldades que – supostamente – deveriam ter ficado para trás. Contudo, mudar a geografia é mais fácil que mudar a história, e esta dupla solitária de mulheres fortes terá de reunir toda a resistência possível para sobreviver com dignidade em uma sociedade preconceituosa.

É surpreendente que “Valentina” seja um longa de estreia. A maturidade narrativa do roteirista e diretor mineiro Cássio Pereira dos Santos conduz o filme com segurança, evitando a facilidade de clichês sentimentais, ao mesmo tempo em que desenha seus personagens com notáveis naturalidade e verossimilhança. Interpretações, direção de arte, estilo, tudo conduz para aquele saudável mandamento cinematográfico que diz que “menos é mais”.

“Valentina” teve sua estreia mundial na versão online do Outfest Los Angeles LGBTQ Film Festival, onde Thiessa Woinbackk recebeu o Grande Prêmio de Melhor Interpretação. O filme teve sua primeira exibição em salas de cinema no dia 13 de outubro de 2020, em competição no Festival de Cinema de Varsóvia, e chega agora ao circuito brasileiro.