A FORÇA DO EXERCÍCIO ESTÉTICO É O DESTAQUE DE “GRAVIDADE”.

Raridade muito bem-vinda: um filme em 3D que realmente funciona. São pouquíssimos os filmes em 3D que de fato valem o investimento do alto custo do ingresso. Lembro-me de “Avatar”, “Pina” e “Enrolados”. O resto é caça-níquel. “Gravidade” chega agora para engrossar a lista destes poucos bem-vindos. Na verdade, o filme praticamente só se justifica se for em 3D. Melhor ainda em Imax. Isto porque trata-se de uma produção onde a experiência visual é bem mais interessante que o tênue roteiro.

Basicamente, “Gravidade” é sobre uma astronauta – Sandra Bullock – que se perde no espaço. Não há muito além disso. Mas é inegável que a direção do mexicano Alfonso Cuarón, o mesmo de “E Sua Mãe Também”, é mais do que eficiente em causar sensações de falta de ar e desespero diante da imensidão do espaço. Quem tem labirintite deve evitar. Longos planos em mirabolantes movimentos de câmera tendo como cenário apenas o espaço infinito, sem referências de alto, baixo, esquerdo ou direito, conseguem causar emoções visuais – e respiratório-estomacais – mais próximas de uma montanha russa que propriamente de uma sala de cinema.

Louve-se também o trabalho de som que, ufa, felizmente se lembrou que as ondas sonoras não se propagam no espaço, como Kubrick já nos havia ensinado décadas atrás em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.

Dramaturgicamente, “Gravidade” flerta um pouco com o melodrama, tangencia a auto-ajuda, e incomoda um pouco no quesito verossimilhança, mas nada que chegue a comprometer a experiência lúdica da fantasia.
É divertido, mas nada que se aproxime da cena (para mim) mais exasperadora de, outra vez, “2001”, onde um astronauta se perde na imensidão do infinito. E além.