“A GRANDE PAIXÃO” VALE POR STROHEIM.  

Por Celso Sabadin.

Cara de mau, ar misterioso, jeito de vilão, não muito alto, o vienense Erich Oswald Hans Carl Maria Von Stroheim desde jovem já percebera que trabalhar na fábrica de chapéus do pai não era o emprego de seus sonhos. Em 1909, aos 24 anos, resolve atravessar o Atlântico rumo aos Estados Unidos, onde se depara com uma nova e fascinante atividade que começa a encantar as plateias: o cinema.

Logo, com seu longo nome abreviado para Erich Von Stroheim, começa a trabalhar na indústria cinematográfica norte-americana nas mais diversas funções, mesmo porque naquela época ainda não havia no setor uma divisão de trabalho muito definida. Em 1915, estreia como figurante na Jesse L. Lasky Feature Play Company (espécie de embrião da Paramount) em “The Country Boy”, e três anos depois já está escrevendo, roteirizando, dirigindo e produzindo.

Erich Von Stroheim é o grande destaque de “A Grande Paixão”, de 1945, misto de melodrama e noir policial escrito por Anne Wigton, Heinz Herald e Richard Weil, a partir de personagens criados pela escritora austríaca Vicki Baum.

Stroheim interpreta “o grande Flamarion” do título original, um homem frio e amargo que enriqueceu graças à sua pontaria e habilidade com revólveres. Ao lado de Connie (Mary Beth Hughes) e Dan Dureya (Al), Flamarion comanda uma estranha performance teatral na qual pratica tiro ao alvo com (ou contra) seus colegas de palco.

Está armada a situação para o desenvolvimento de uma trama das mais icônicas do cinema noir: a mulher fatal que seduz um inocente para convencê-lo a cometer um crime que só favorecerá a ela própria.

Com direção de Anthony Mann, “A Grande Paixão” está longe de ser um dos melhores filmes do diretor de “El Cid” e “Música e Lágrimas”, mas mesmo assim se desenvolve com fluidez. Principalmente em função da atuação de Stroheim, convincente no tocante arco dramático que vive seu personagem.

O problema maior fica mesmo com o roteiro, que através do diálogo entre Flamarion e o palhaço Tony (Lester Allen) já conta para o espectador, logo nas primeiras cenas, tudo o que veremos no decorrer do filme, eliminando assim qualquer eventual suspense ou surpresa que poderia haver. Apenas acompanhamos o que já foi dito. Além disso – senta que lá vem spoiler – no confronto final entre Flamarion e Connie, que acontece no camarim de um teatro lotado, são disparados dois tiros, segue-se um longo diálogo, depois há mais dois tiros, mas as pessoas só correm para ver o que está acontecendo após os dois tiros finais. Por que ninguém teria ouvido os dois tiros iniciais?

“A Grande Paixão” é o primeiro dos 11 longas de baixo orçamento que a W. Lee Wilder Productions realizaria entre 1945 e 1968.