A GRANDE UTOPIA CONSUMISTA DE “PEQUENA GRANDE VIDA”.

Por Celso Sabadin.

Na eterna busca que o mercado empreende diariamente para convencer  cada vez mais pessoas a gastar cada vez mais dinheiro, vale tudo. Inclusive reduzir o consumidor. Em todos os sentidos que a palavra “reduzir” possa assumir.

Esse é o ponto de partida de “Pequena Grande Vida”, mistura de fantasia, fábula, ficção científica e crítica social dirigida por Alexander Payne, o mesmo de “Sideways” e “Eleição”. A partir do roteiro do próprio diretor em parceria com seu colaborador habitual Jim Taylor, o filme imagina uma história fantástica na qual os cientistas teriam desenvolvido a incrível capacidade de encolher seres humanos a proporções mínimas, mais ou menos como no antigo seriado de TV “Terra de Gigantes”. A intenção seria das melhores: humanos minimizados gerariam muito menos lixo, demandariam muito menos recursos e, assim, salvariam o planeta. Nada como uma um bom pretexto politicamente correto para induzir os cidadãos ao consumo, porque na verdade o grande motivador deste processo de miniaturização reside no fato de que qualquer pessoa normal de classe média ingressará no minimundo como milionário. Um minimundo, diga-se, asséptico como um condomínio que aliaria uma direção de arte de filme espírita com obras de Romero Brito.

O terapeuta ocupacional Paul Safranek (Matt Damon), meio que atolado em dívidas, aceita ser “diminuído”, mas algo vai dar errado. Claro. Se as coisas não dão erradas, não tem filme.

Mesmo escorregando um pouco aqui e ali em digressões de roteiro, “Pequena Grande Vida” tem o mérito de colocar em pauta algumas questões bem intrigantes a respeito desta nossa tão confusa condição humana. Entre elas – e principalmente – a impossibilidade das utopias. Independente do tamanho (novamente com todo o simbolismo implícito na palavra), o ser humano não consegue se desvencilhar de sua tendência segregacionista, que o obriga indefinidamente a classificar, rotular, explorar e excluir seus semelhantes (principalmente os “menos semelhantes”), nunca percebendo as diferenças que existem entre a sociedade e as prateleiras de um supermercado.

“Pequena Grande Vida” estreia nesta quinta, 22 de fevereiro.