A IMPONÊNCIA GELADA DE “ÁGA”.

Por Celso Sabadin.

Dentro de uma realidade que nos apresenta o isolamento social como a grande pauta do momento, poucos filmes serão tão significativos quanto “Ága”.

Coproduzido por Bulgária, Alemanha e França, o longa mostra um casal provavelmente no mais alto grau de isolamento que o planeta posso proporcionar: Nanook e Sedna vivem em Iacútia, também conhecida como Sakha, uma das repúblicas componentes da Federação Russa onde não raro a temperatura atinge os 60 graus negativos.

Em solidão quase absoluta, o casal de esquimós vivencia um cotidiano praticamente inconcebível para a maior parte da população, pescando em meio a quantidades impensáveis de gelo, percorrendo quilômetros de um interminável branco penetrante, e usando as próprias mãos para manter em pé a precária habitação que pode não resistir às tempestades de neve. Sem wi-fi.

Não bastasse tamanha aspereza, o casal ainda tem uma dolorida pendência familiar a resolver.

O que é adversidade para os personagens é possibilidade para o filme. A inóspita região proporciona cenas de grande beleza plástica, enquadramentos majestosos, proporções que fogem à nossa compreensão e silêncios contundentes que fazem de “Ága” uma rara experiência cinematográfica. Parece um filme rodado em outro planeta.

Vencedor de vários prêmios internacionais, “Ága” faz uma homenagem/referência ao histórico “Nanook, o Esquimó”, (importante filme de 1922 considerado o primeiro grande documentário cinematográfico), ao batizar seu protagonista com o mesmo nome do antigo personagem.

“Ága” é o segundo longa dirigido pelo búlgaro Miko Lazarov.