A INQUIETANTE SORDIDEZ DE TODA UMA GERAÇÃO EM “VIOLÊNCIA EM FAMÍLIA”.

Katrina (Emily Barclay), além de ser nome de um furacão arrasador, é uma adolescente de classe média que consegue reunir, sozinha, tudo o que possa existir de pior na alma humana. Ela é mentirosa, irresponsável, agressiva, egoísta, mau caráter e vadia. Só? Não. Além de todos estes “atributos”, a garota é suspeita de ter assassinado o próprio pai. E não se importa muito com isso, já que o caso lhe trouxe notoriedade e mídia, provavelmente os mais importantes valores de Katrina. E de bilhões de outras pessoas pelo mundo.

Katrina é o objeto a ser analisado em “Violência em Família”, drama indicado a 12 prêmios da Academia de Cinema Australiana, e que acabou ganhando três: atriz, trilha sonora e ator coadjuvante para Anthony Hayes (no papel de Kenny, o amigo com problemas mentais). Pode parecer muito, na medida em que o filme não chega a ser um primor cinematográfico, optando por uma linha minimalista e quase documental de narração. Não exatamente uma novidade. Porém, ao se transformar num painel de toda uma geração confusa e perturbada, sem valores nem perspectivas, que mata a família e nem vai ao cinema, “Violência em Família” ganha em conteúdo e em matéria prima para discussão e análise.

Cruel, o filme expõe o retrato de tantas Katrinas e Susanas Von Richtofens que andam soltas pelo mundo, como que alardeando que algo está muito errado, que tragédias iguais e piores podem se repetir a qualquer momento, perpretadas não por criminosos contumazes que habitam o imaginário coletivo, mas sim pela vizinha da casa ao lado. Pelo colega da escola.

Filme de estréia da roteirista Alice Bell, “Violência em Família” é o terceiro longa do diretor Paul Goldman, e mostra que ainda existe uma inquietação bem-vinda no cinema australiano atual, que andava meio esquecido do circuito brasileiro ultimamente.