A INSANIDADE MILITARISTA EM “SOLDADO ESTRANGEIRO”.

Por Celso Sabadin.

Enquanto no Brasil milhares de jovens fazem o possível e o impossível para se livrar da arcaica e absurda obrigatoriedade de prestar o serviço militar aos 18 anos de idade, pelo mundo há brasileiros dispostos a – também – fazer o possível e o impossível para ingressar em exércitos de outros países. Retratar um pouco quem são estes jovens é a perturbadora proposta de “Soldado Estrangeiro”, de José Joffily e Pedro Rossi, estreando nos cinemas nesta quinta, 03/12.

O filme acompanha três personagens que – cada qual à sua maneira – tentarão nos mostrar o incompreensível. O primeiro é o aspirante carioca Bruno Silva, que abandona a família, incluindo uma filha pequena, junta todas as suas economias e parte para França, sem falar uma palavra em francês, para tentar se engajar na rígida Legião Estrangeira, um braço do exército francês que atua militarmente fora de seus territórios.

O segundo é Mário Wasser, rapaz da classe média paulista que serve ao exército israelense em base militar na Cisjordânia. E o terceiro é o Felipe Nascimento, ex-combatente no Afeganistão que agora vive em Nova York tentando alterar sua documentação de veterano em busca do recebimento de algum benefício social que o permita viver dignamente.

Nos olhos inquietos destes três jovens, percebe-se nitidamente algum grau de desequilíbrio emocional. Mesmo porque apenas o desequilíbrio – provavelmente misturado ao desespero e aos mais variados níveis de exclusão – poderia explicar uma pessoa, em sã consciência, desejar tão ardentemente se engajar em guerras e conflitos militares.

Em Bruno Silva, o que aparenta um menor grau de perturbação, nota-se a tristeza da exclusão que de alguma forma fez com que o rapaz optasse pela dor da saudade da filha. Mario Wasser parece uma bomba relógio prestes a explodir, inquieto, hiperativo, de riso nervoso, eternamente chamando para a briga quem quer passe à sua frente. E Felipe Nascimento é aquele que já explodiu e tenta recuperar os cacos da sua vida.

As histórias do filme, contadas de forma independente, são pontuadas com citações do livro “Johnny Vai à Guerra”, de Dalton Trumbo.

“Em ‘Soldado Estrangeiro’ uma certeza nos orientava: fazer um filme antibélico. Dúvidas de como fazer, onde ir e com quem conduzir a narrativa eram às vezes desconcertantes. Mas estávamos convictos do norte a seguir. Nossas teorias eram confrontadas a todo momento por Bruno, Mario e Felipe. Fosse para sair da Baixada Fluminense e melhorar de vida na Legião Estrangeira, defender ideias genéricas na Cisjordânia ou se afirmar como um veterano nos Estados Unidos, as escolhas dos três conduziam o filme para uma guerra estranha a nós, seus conterrâneos”, explicam os diretores José Joffily e Pedro Rossi, que retomam a parceria depois de “Caminho de Volta” (2015), longa que também retrata brasileiros vivendo no exterior.

Ao final do filme, impossível conter uma reflexão: como o mundo seria melhor se não existissem exércitos!

Mais sobre os diretores:

Como diretor de cinema, José Joffily já desenvolveu diversos projetos, entre ficções e documentários, como “Caminho de Volta” (doc., 2015); “Olhos Azuis” (fic., 2010); “Vocação do Poder” (doc. 2005); “O Chamado de Deus” (doc., 2000); “Quem Matou Pixote?” (fic., 1996).

Pedro Rossi trabalhou como produtor nos longas Romance Policial (2015), Noites de Reis (2012) e “Não Se Pode Viver Sem Amor” (2010) e no documentário “Ippon” (2013) de ESPN. Dirigiu com José Joffily o documentário “Caminho de Volta” (2015). Dirigiu a série de documentários “O Som e O Silêncio” (2018) para o canal Arte1. Assina como diretor e fotógrafo os documentários “Soldado Estrangeiro” e “Depois da Primavera”, o último em parceria com o canal Curta!.