A IRRETOCÁVEL HUPPERT E O EMPOLGANTE “A SINDICALISTA”.

Por Celso Sabadin.

É incrível a quantidade de assuntos importantes que – por mais que acompanhemos o noticiário – a gente sequer fica sabendo que existem. Por exemplo, eu não tinha o menor conhecimento da luta sindical que a irlandesa Maureen Kearney empreendeu junto a Areva – multinacional francesa de energia atômica – em relação a alegadas maracutaias que a empresa desenvolveu e desenvolve junto ao governo chinês. Nem nunca tinha ouvido falar da Areva.

Toda esta história (bem recente, por sinal), se pode parecer confusa à primeira vista, é esclarecedoramente contada com detalhes (e que detalhes!) no filme “A Sindicalista”, que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 29/06.

Na verdade, o que mais me moveu a ver o longa foi a presença da sempre irretocável Isabelle Hupert, interpretado a personagem principal. Neste quesito, não tive surpresas: ela continua irretocável. Já em relação ao ruidoso caso Areva, é uma surpresa atrás da outra!

Mesmo de desenvolvendo nos bastidores da política – ambiente nem sempre dos mais atrativos, cinematograficamente falando, “A Sindicalista” é um filme que se assiste na pontinha do assento da poltrona, e do qual a gente não se desliga nem por um minuto.

A direção é intensa e tensa o suficiente para extrair um filme dos mais empolgantes a partir do roteiro de Fadette Drouard, Caroline Michel-Aguirre e do próprio diretor, Jean-Paul Salomé,  o mesmo de “O Fantasma do Louvre”, e de “A Dona do Barato” (este também com Huppert). Tudo tendo como base o livro “La Syndicaliste”, publicado pela jornalista e corroteirista Caroline Michel-Aguirre, em 2019.

O filme vai além das tramas políticas. Como não poderia deixar de ser, a questão feminista também é abordada – e com muita consistência – principalmente na denúncia que faz contra a eterna postura masculina de não poupar esforços em desqualificar as atitudes das mulheres. Tudo isso sem panfletarismos e apoiado por uma sólida construção de personagens.

Coproduzido por França e Alemanha, “A Sindicalista” foi selecionado para a competição oficial do Festival de Cannes, e da mostra Horizons de Veneza 2022.