“A JANELA” PECA PELAS FÓRMULAS PRONTAS.

Existem filmes que emocionam pela simplicidade e pela poesia espontâneas e verdadeiras. E existem aqueles que não comovem exatamente porque se apoderam de fórmulas prontas em busca de uma simplicidade e de uma poesia que acabam soando forçadas na tela. “A Janela” se enquadra na segunda categoria.
O cineasta argentino Carlos Sorin (o mesmo de “O Cachorro” e “Histórias Mínimas”) reúne todos aqueles estereótipos que parecem pensados sob medida para criar um clima de “filme poético”. Um casarão em meio a uma vasta planície, um escritor aposentado, a espera pelo filho, um piano há muito não tocado… Todos estes elementos somados, porém, não rendem um bom filme. Eles parecem falsos, sem alma, pré-fabricados por um tipo de direção que não transpira emoção.

Aos 80 anos, Antonio (vivido pelo escritor uruguaio Antonio Larreta) aguarda a visita do filho – há anos ausente – em sua bela porém árida fazenda isolada em algum canto da Argentina. Preso a sua cama, ele observa a movimentação das empregadas e de um afinador de piano que preparam o lugar para o grande reencontro. Uma lembrança, contudo, assombra a mente de Antonio: naquela noite, ele havia sonhado com um antigo episódio de sua vida, que julgava para sempre esquecido em algum canto da memória. Por que?

Em ritmo de Bergman, mas passando longe da sutileza do cineasta sueco, Sorin tropeça em detalhes importantes que acabam comprometendo o todo da obra. Antonio Larreta, apesar da idade, aparenta bem menos, e não passa a fragilidade de saúde que teria seu personagem. Da mesma forma, a direção de arte apresenta um casarão extremamente limpo e brilhante, inclusive na cena onde móveis antigos serão retirados de um quarto de despejos. Falta a poeira do tempo, a emoção do imperfeito, o arrepio do espontâneo.

Friamente asséptico, “A Janela” é um filme que passa longe da emoção ao buscar esquemas pré-fabricados para alcançá-la.