A Lenda do Zorro

Desde que Johnston McCully escreveu “A Maldição de Capistrano”, em 1918, muito já se falou, se escreveu e também se filmou sobre o personagem Zorro, um justiceiro mascarado que atuava na Califórnia, quando o estado ainda era propriedade do México. Mas certamente McCully se reviraria em sua tumba se visse o que fizeram agora com sua criação em A Lenda do Zorro, superprodução de US$ 80 milhões que uma penca de argumentistas e roteiristas hollywoodianos se encarregou de transformar num verdadeiro samba do crioulo doido. Ou, no caso, do mexicano doido.
O filme até que começa bem, mostrando Alejandro de la Vega e Elena, agora casados e com um filho, começando a viver uma crise de relacionamento por causa do “trabalho” de Alejandro. Afinal, ser um justiceiro tempo integral consome muito tempo e energia, o que deixa as obrigações familiares em segundo plano. A princípio, parece que A Lenda de Zorro seguirá a tradicional linha “familiar” que norteia as produções comerciais americanas. Há um, gostoso sabor de matinê, um clima sessão da tarde, e uma produção muito bem cuidada, assinada por ninguém menos que Steven Spielberg. Porém, da metade para o final, o roteiro dá uma guinada, e começa a se aproximar perigosamente das grotescas trapalhadas inconcebíveis que fizeram o fracasso de “As Novas Aventuras de James West”, com Will Smith. Cria-se uma estapafúrdia conspiração internacional vinda da Europa que tem por objetivo desestabilizar os EUA durante a Guerra Civil para assim puxar o tapete do que viria a ser a grande e poderosa nação do Ocidente. E provando que as feridas da invasão americana ao Iraque ainda continuam abertas, o vilão, aqui é um francês…
Ficou simplesmente patética esta tentativa de relacionar o universo de Zorro com a situação norte-americana pós-11 de setembro. Um desperdício de bons atores, de um diretor competente, de uma trilha sonora emocionante e de uma produção caprichada servindo a um roteiro dos mais equivocados.