“A LISTA” COMEÇA BEM E DESCAMBA PARA O POLICIALESCO.

Existem filmes que parecem ter sido feitos em duas metades: na primeira parte, trabalham um roteirista e um diretor. Na segunda, mantém-se apenas o elenco e troca-se todo o resto. Esta é a impressão que se tem no suspense “A Lista – Você Está Livre Hoje?”, do diretor estreante Marcel Langenegger. O filme começa muito bem, desenvolvendo o personagem Jonathan (Ewan McGregor), um contador tímido, metódico e solitário, especializado em auditorias. Logo nas primeiras cenas ele conhece o descolado Wyatt (Hugh Jackman), um bem sucedido homem de negócios, falante e seguro de si. Como – dizem – os opostos se atraem, ambos rapidamente desenvolvem uma amizade.
Até o dia em que acidentalmente eles trocam seus (idênticos) aparelhos de celulares, e Jonathan recebe um misterioso recado de uma mulher, que na verdade deveria ser encaminhado a Wyatt. Está estabelecida a confusão. Jonathan marca um encontro com a misteriosa desconhecida, e o resultado é uma quentíssima noite de sexo.

A partir daí, “A Lista” ensaia uma interessante discussão sobre a impessoalidade e o individualismo dos tempos atuais. Como as grandes corporações – que sugam seus empregados até a última gota de alma – acabam criando executivos sem tempo até para as necessidades mais primais. Sexo inclusive. E como o homem de negócios desenvolve rotas de fuga que deságuam para uma verdadeira roleta russa sexual. Tudo com uma elegante direção de arte, e uma fotografia em tons escuros, que ressalta a dramaticidade e a crueza da situação.
Sim, o filme “ensaia” todas estas discussões. Mas vira o jogo completamente e não segue nenhum destes caminhos. Pior: após uma envolvente e hipnótica primeira metade, “A Lista” descamba para o policialesco convencional, igual a tanta coisa já vista antes, jogando por água abaixo o que poderia ser o embrião de uma bela idéia cinematográfica. Seria por este motivo que o título original do filme é “Decepcion”?

Um desperdício de talento de dois grandes atores, e do tempo do espectador. Nas bilheterias norte-americanas, o filme faturou menos de 1/5 de seu custo estimado de US$ 25 milhões.