“A MÚSICA DO TEMPO”, SONORIDADE MEDIEVAL MUITO ALÉM DE “GAME OF THRONES”.

Por Celso Sabadin.
 
Em tempos de cortes orçamentários em projetos culturais e/ou educacionais, é um alento assistir ao documentário “A Música do Tempo”, que tem como subtítulo “Do Sonho do Império ao Império do Sonho”.
O filme registra o belíssimo trabalho, já com mais de 30 anos de estrada, do Grupo de Música Antiga da Universidade Federal Fluminense, de Niterói, Rio de Janeiro. Formado por Lenora Pinto Mendes, Leandro Mendes, Márcio Paes Selles, Mário Orlando e Virginia Van der Linden, o Música Antiga tem como objetivo pesquisar, registrar e difundir a música dos períodos medieval, renascentista e barroco, utilizando para isso réplicas dos instrumentos de suas respetivas épocas, adquiridas no exterior ou construídas especialmente para o grupo.
 
Não se trata – como o próprio documentário faz questão de frisar – de uma música medieval nos moldes de “Game of Thrones”, mas sim de uma pesquisa profunda e intensa sobre o panorama musical ibérico dos períodos citados. Os participantes do Música Antiga lembram que – de uma forma geral – quase todos nós temos um registro imaginário e afetivo da música medieval como trilha sonora de histórias de reis, rainhas e castelos que vimos e ouvimos na infância. Mas que tais referências, em função do colonialismo cultural ao qual somos submetidos, quase sempre são teutônicas, anglo saxões ou até mesmo nórdicas. Ou seja, quase nada sabemos das tradições e raízes musicais ibéricas, justamente as que mais influências exerceram sobre a música brasileira – principalmente a nordestina – aqui implantadas pelos conquistadores portugueses. Esta é a lacuna que o Música Antiga busca preencher.
 
Informativo sem ser didático, “A Música do Tempo” propõe uma deliciosa viagem pela sonoridade bastante específica da música medieval, iniciando-se na corte portuguesa de D. Manuel, passando pela lendária batalha de Alcácer Quibir, e terminando no folclore maranhense. Tudo entrecortado por cenas de bastidores e entrevistas.
Dirigido por João Velho, “A Música do Tempo” é uma rara experiência de modelo de produção híbrido, envolvendo uma universidade pública como produtora e trabalhando com uma equipe profissional nas funções principais, além da colaboração de estudantes de cinema da própria UFF.