“A NEGOCIAÇÃO” INVESTIGA UMA AMÉRICA FRAUDULENTA.

Uma grande transação de meio bilhão de dólares, uma amante insatisfeita, e uma filha prestes a herdar o seu império. O bilionário Robert Miller (Richard Gere) caminha sobre ovos para tentar administrar estas três explosivas situações. E várias outras que surgirão na medida em que os negócios tomarem espaço cada vez maior em sua vida. Com este ponto de partida, “A Negociação” busca discutir os limites da ética das grandes transações financeiras (se é que existe tal ética), e os desdobramentos de decisões infelizes que poderão levar, com a ajuda ou não da mão do acaso, aos mais diferentes níveis de crime. Da mentira à fraude. Do adultério à morte.

Assinando tanto o roteiro como a direção, o jovem novaiorquino Nicholas Jarecki surpreende duplamente. Dirigindo, estreia no longa de ficção com elegância e firmeza, dando consistência aos seus personagens e – se não evitando – pelo menos contornando eficientemente os clichês do gênero. É no roteiro, porém, que se encontram os maiores méritos do filme. Jarecki não julga: expõe com sobriedade as diversas camadas motivacionais de seu protagonista, que não é pintado nem como santo, nem como demônio. Não espere arcos dramáticos mirabolantes, muito menos redenções espetaculares. Ainda que “A Negociação” explore, sim, vários padrões hollywoodianos do gênero, o filme prefere soluções mais críveis e menos fantasiosas para os seus personagens.

Embora os holofotes apontem para Richard Gere e Susan Sarandon, é importante notar a riqueza dramatúrgica da personagem Brooke, filha do protagonista, que mesmo em papel coadjuvante atua como um dos mais importantes pivôs de toda a trama. É Brooke que aqui representa o esteio familiar, o divisor de águas do que poderia ser uma nova América menos fraudulenta, uma nova geração carregada com promessas de melhores tempos. “Você quebrou o coração da nossa filhinha”, diz a mãe. “Ela vai aprender com isso”, responde o pai.

Talvez por apostar mais na vida e menos nos clichês, o filme tenha desagradado ao público dos EUA, onde faturou desprezíveis US$ 8 milhões. A crítica, contudo, o colocou entre os 10 melhores independentes do ano.