A NOITE BIZARRA DE “EL MATE”.

Por Celso Sabadin. 

Já tive a oportunidade de dizer aqui algumas vezes que gosto de filmes que exploram situações limites, com poucas pessoas em cena, cenário único, muita tensão e diálogos afiadíssimos. Geralmente são trabalhos difíceis de fazer (e eventualmente até de assistir), mas que proporcionam boas doses de prazer cinematográfico. Imagino que esta tenha sido a intenção do diretor Bruno Kott ao realizar “El Mate”, longa que apesar do título é totalmente brasileiro.

Toda a trama se desenrola numa única noite, quando o matador de aluguel Armando (Fabio Marcoff) aguarda o pagamento por um serviço, enquanto mantém sua presa (Vadim Nikitim) amarrada e amordaçada. O já frágil equilíbrio da situação se desestabiliza ainda mais com a chegada de Fábio (interpretado pelo próprio diretor do filme), evangélico que distribui folhetos religiosos de porta em porta. É o início de uma noite bizarra.

Ainda que envolvente em determinados momentos, “El Mate” termina com a sensação de que foi produzido sem o devido polimento de roteiro. Até começa bem, faz bom uso dos enquadramentos claustrofóbicos, é competente na parte técnica, bem interpretado, mas não demora a demonstrar suas fragilidades de roteiro. Exemplo: a preocupação que os protagonistas têm de não falar alto para não chamar a atenção de vizinhos, ao mesmo tempo em que disparam tiros sem cerimônia. E, principalmente, a ausência de uma linha dramatúrgica mais coesa, mais forte, o que poderia ser até relevado caso houvesse uma excelência maior nos diálogos. O que não é o caso. Mais investimento de tempo e talento neste quesito tão fragilizado do nosso cinema – o roteiro – certamente teria sido benéfico.

No final, o clássico tango “Cambalache” dá o recado que “El mundo fue y sera una porquería ya lo se/ En el quinientos seis/ y en el dos mil también”. E que “Es lo mismo el que trabaja noche y día como un buey, que el que vive de los otros que el que mata que el que cura o esta fuera de la ley”.

Estreou em 17 de agosto.