“A NOITE DEVOROU O MUNDO”, OU ZUMBIS À PARISIENSE.

Por Celso Sabadin.

Se não pode vencê-los, junte-se a eles. Já faz um bom tempo (talvez desde “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulan”, há quase 20 anos) que o cinema francês vem paulatinamente abandonando seu estilo “deprê-papo cabeça-discussão de relação na casa de campo” e enveredando por caminhos mais comerciais. Talvez seja uma questão de sobrevivência financeira, ou simples consequência da globalização – talvez ambos – mas o fato é que os filmes produzidos na França se afastam cada vez mais da experiência intimista e psicológica de décadas atrás, na mesma proporção em que se aproximam do entretenimento.

Neste sentido, gêneros e estilos que eram há até bem pouco tempo considerados de uso exclusivo do cinema norte-americano já transitam com desenvoltura pela cinematografia francesa. Quem poderia imaginar, por exemplo, na época da Nouvelle Vague, um filme de zumbi passado em Paris? Pois agora a Torre Eiffel e os famosos telhados da capital francesa se transformam em eficiente cenário para “A Noite Devorou o Mundo”, longa baseado no livro homônimo de  Pit Agarmen, pseudônimo do escritor parisiense Martin Page.

Sem muitas explicações (aliás, sem nenhuma explicação, o que é ainda mais legal), o jovem  Sam (o norueguês Anders Danielsen Lie) pega no sono durante uma festa e ao acordar percebe que todos os convidados se transformaram em zumbis. Ou, pior: que todos os moradores do prédio onde ele estava viraram zumbis… ou talvez o mundo inteiro tenha virado, menos ele. Não há tempo para pensar em mais nada, a não ser na própria sobrevivência. É com este fiozinho de história que o diretor Dominique Roche (premiado em curtas, e aqui estreando no longa) desenvolve um thriller dos mais magnéticos e eficientes, num bem sucedido exercício de estilo potencializado por um diferencial no gênero: aqui, os zumbis são ágeis como pessoas normais, e não lentos e toscos, como quase sempre acontece.

Com estreia programada para 5 de julho, “A Noite Devorou o Mundo” evita os clichês fáceis do gênero e marca um golaço para a França nesta sua busca pelo mercado, sem perder a qualidade de vista. Breve, o lançamento do ótimo suspense “Último Suspiro” virá ratificar ainda mais a tendência abordada no início deste texto. Aguarde.