A OUTRA FARSA DA JUSTIÇA EM “O TERCEIRO ASSASSINATO”

Por Celso Sabadin.

Um violento assassinato seguido de tentativa de ocultação de cadáver. A princípio, um caso simples: o réu, confesso, teria se enfurecido com a vítima, seu patrão. O máximo que seus advogados podem fazer agora é tentar reduzir a pena de morte para perpétua. Porém, surgem nuances que indicam novos rumos na investigação. E a partir daí o ótimo roteiro de Hirosaku Koreeda – que também dirige o filme – passa a denunciar os tortos caminhos da justiça: o que aconteceu ou não de verdade torna-se irrelevante diante da necessidade de resolver o caso com rapidez. Por uma questão de imagem do poder judiciário diante da população, a velocidade da resolução do caso ganha importância maior que a veracidade dos fatos. Negociações entre advogados sobrepõem-se à busca pelo assassino real, e a dura tragédia humana fica em segundo plano diante do superficial jogo de aparências.

Todas estas graves questões são colocadas em « O Terceiro Assassinato » com a força, o vigor e principalmente a elegante sobriedade que caracteriza a obra de Koreeda, o premiado diretor de “Nossa Irmã Mais Nova”, “Ninguém Pode Saber” e “Pais e Filhos”, entre outros. Sua câmera sempre segura brinda o elenco com closes generosos, desenvolve uma narrativa que tangencia o suspense e penetra no âmago do drama, ao mesmo tempo em que se utiliza de uma ferramenta cada vez mais rara no cinema atual para acentuar a gravidade das situações propostas: um mais que bem-vindo silêncio ensurdecedor.

Curiosidade: no papel principal do advogado Shigemori, o ator Masaharu Fukuyama também é cantor, compositor, fotógrafo e personalidade de grande sucesso no Japão.

Perturbador e envolvente, “O Terceiro Assassinato” estreia em 19 de abril.