“A OUTRA MULHER”, CONSERVADOR MAS DIVERTIDO.

Por Celso Sabadin.

Recentemente comentei aqui sobre trêileres que estragam todo o filme, contando tudo o que vai acontecer. Felizmente este não é o caso de “A Outra Mulher”: aqui, o trailer estraga apenas a primeira parte do filme. Exatamente a metade. Nos primeiros 45 minutos do longa, vemos – de uma forma esticada – tudo o que o trailer já havia mostrado: Daniel (Daniel Auteuil, também diretor do filme) é um homem de meia idade, casado, que se encanta cegamente pela bela Emma (a espanhola Adriana Ugarte), namorada do seu grande amigo Patrick (Gérard Depardieu). Um jantar entre os dois casais é o cenário perfeito para o desastre, pois o sonhador Daniel tem o hábito de mergulhar profundamente em seus próprios pensamentos, chegando a perder a noção da realidade. Esta é, aliás, a situação cômica principal – quase única – da primeira metade do filme: deixar o espectador sem saber o que está de fato acontecendo e o que só existe na imaginação do protagonista. Está tudo no trailer.

Tudo melhora na segunda metade, quando o roteiro, ao alternar de maneira mais radical as cenas que representam a realidade com as que retratam a imaginação de Daniel, torna-se mais eficiente no joguinho de iludir a plateia. Nada muito especial, mas divertido. Fora o prazer de ver, juntos, dois grandes atores (Auteuil e Depardieu) e uma grande atriz (Sandrine Kiberlaim) do cinema francês atual. Ugarte pode não ser tão talentosa como seus colegas, mas a beleza compensa.

O roteiro, com jeitão de teatro, é de Floran Zelle.