“A OVELHA NEGRA” ACERTA O CAMINHO DO CONFORTO CRIATIVO.

Por Celso Sabadin.

Não deixa de ser uma surpresa o fato de um filme chamado “A Ovelha Negra” ser exatamente sobre… uma ovelha. E negra. Talvez seja justamente este o grande mérito deste drama escolhido pela Islândia para concorrer ao Oscar de produção estrangeira: surpreender pelo óbvio.

Os grandes planos abertos do roteirista e diretor Grímur Hákonarson situam num país amplo, silencioso, belo e pouco habitado a história dos irmãos Gummi ( Sigurður Sigurjónsson) e Kiddi (Theodór Júlíusson) que, embora vizinhos e se dedicando à mesma atividade (a criação de ovelhas), não se falam há mais de 40 anos. A longa e muda trégua entre ambos se rompe após um concurso de ovelhas, quando Gummi faz uma descoberta que pode colocar em risco os criadores de toda a região. Talvez de todo o país.

O filme encanta pela construção dos personagens e pela ambientação geográfica. Narra sua história sem pressa, com o tempo próprio do interior, com a calma característica de quem tira seu sustento numa atividade totalmente ligada aos ciclos da natureza. É inegável, porém, e um pouco incômoda, a constatação de um cinema de fórmulas, onde prevalecem elementos típicos de uma significativa fatia da produção europeia feita com uma sistematização direcionada a ganhar prêmios. São basicamente os mesmos tempos, as mesmas formulações de roteiro, os mesmos estilos de direção e os mesmos arcos dramáticos, as mesmas trilhas sonoras minimalistas que acabam colocando a obra na vala comum da previsibilidade.

O que, no caso de “A Ovelha Negra” deu certo: o filme foi escolhido como o melhor da

Mostra Un Certain Regard, em Cannes, além de várias premiações internacionais. E que, obviamente, fala muito mais do que de apenas ovelhas negras. O filme estreia no Brasil em 11 de fevereiro.