“A PARTIDA”: UM INEXPLICÁVEL OSCAR PARA O JAPÃO.

Daigo é um jovem violoncelista desempregado. Sem confiança em seu próprio talento, ele decide voltar para sua cidade natal, no interior do Japão, em busca de um emprego qualquer. E logo consegue: meio a contra gosto, torna-se um “preparador de cadáveres”, ou seja, o profissional que se dedica a maquiar e arrumar defuntos, para que sejam enterrados da maneira mais digna possível. Porém, o envergonhado Daigo não consegue contar a verdade à sua esposa, que acredita que o marido trabalha numa espécie de “agência de viagens”.

Com vários prêmios acumulados em festivais internacionais, o diretor Yôjirô Takita se aliou ao roteirista estreante Kundo Koyama para contar esta história de amores, mortes e ritos da passagem. O filme causa estranhamento. Não pelo tema da Morte, que é tratado com muita dignidade e com todo o belo aparato ritualístico típico da cultura oriental. Mas sim pela irregularidade de sua direção, que hora busca o humor, hora flerta com um tipo raso de sentimentalismo, e que acaba descambando para um desfecho piegas, meio que “pensado para ganhar um Oscar”. E ganhou: o de melhor filme estrangeiro, batendo os favoritos “Entre os Muros da Escola” e “Gomorra”. Mais uma opção bizarra da não menos bizarra Academia de Hollywood.

Os momentos em que “A Partida” se pretende cômico esbarram de forma grotesca em interpretações histriônicas. Ou, pelo menos, histriônicas para os padrões ocidentais. Se dá melhor quando aborda a tristeza da Morte e chega a encantar nos rituais. Mas principalmente em sua parte final procura uma catarse no clichê pai ausente/filho inseguro que beira, com o perdão do trocadilho, à infantilidade.

Chega a ser impressionante o fato dele ter vencido um Oscar tão importante.