A PATRIOTADA AMERICANA DE SEMPRE ESTÁ DE VOLTA EM “O GRANDE HERÓI”.

O GRANDE HERÓI
por Celso Sabadin

Há algo de estranho quando um filme é avaliado positivamente porque tem uma cena ótima, tecnicamente muito bem realizada, de um soldado rolando barranco abaixo. Não são poucos os textos que elogiam “O Grande Herói” por causa deste momento, de fato elaborado com perfeição.
Assim, se você quer ver um filme que tem uma cena ótima de um soldado rolando barranco abaixo, nem pense duas vezes: vá ver “O Grande Herói”. O único probleminha é que, junto com este bom momento técnico, você será bombardeado com aquela velha sucessão de patriotadas sem sentido que o cinema-americano faz melhor que ninguém.

A estratégia é antiga, e vem sendo aprimorada por Hollywood desde a 2ª Guerra: consiste em humanizar ao extremo o protagonista/herói enquanto indivíduo, desqualificar e não dar individualidade ao oponente (como se debaixo dos uniformes inimigos lutasse uma massa amorfa) para, assim, validar todo e qualquer tipo de ação militar de agressão e ocupação empreendida pelo valoroso exército norte-americano. Ah, claro, se tudo for “baseado em casos reais”, melhor ainda.

No caso de “O Grande Herói”, a história (baseada em caso real, obviamente), fala de uma missão especial onde membros do esquadrão especial SEAL devem capturar ou matar um importante líder talibã. Infiltrados em terras inimigas, estes valorosos soldados da democracia são descobertos por um pacífico grupo de pastores de cabras, e se veem diante de um terrível dilema: ou matam todos os pastores e prosseguem normalmente com a missão, ou libertam os civis, correndo o risco de serem denunciados. Inacreditavelmente (para o exército americano), eles fazem a segunda opção, e pagam alto pelo gesto humanitário. Como já entrega o título original “Lone Survivor” [sobrevivente solitário], apenas um do grupo permanece vivo. E terá de ser resgatado.

A velha patriotada bélica de sempre. Bem produzida, sim, mas ideologicamente intragável.