A PAULISTA SOLIDÃO DE “SOFIA FOI”.
Por Celso Sabadin.
Neste nosso atual mundo cinematográfico tão pautado por fórmulas engessadas, formatações estético-mercadológicas reducionistas, e um novo curso de roteiro e “storytelling” abrindo a cada virada de página de rede social, é – no mínimo – oxigenador, ver um lançamento que não se preocupa com nada disso.
É o caso de “Sofia Foi”, novo longa do projeto Sessão Vitrine, que abre espaços e preços especiais para filmes que ainda priorizam a experimentação artística às bilheterias.
Tudo gira em torno de 24 horas na vida de Sofia (Sofia Tomic, magnética e convincente, também corroteirisra do filme), uma jovem tatuadora que, sem ter onde morar, perambula pelo campus da Universidade de São Paulo. É lá que ela entra em contato com sua própria – e gigantesca – solidão, flanando entre festas, clientes e pessoas que mal arranham a superficialidade do que poderia se configurar em algum tipo de relacionamento social.
Uma solidão sufocada ainda mais pela utilização da chamada janela de projeção 4:3, aquela quase quadrada, dos filmes e televisões antigos.
Sua arte/profissão marca indelevelmente as pessoas que toca. Mas a recíproca não é verdadeira.
O roteirista e diretor Pedro Geraldo, aqui estreando em longas, utiliza-se de closes e tempos marcadamente alongados para potencializar este universo exilado de uma personagem que busca, sem encontrar, algum propósito entre os muros de um campus que ajudam a isolar vivências que deveriam ser inclusivas. A vida de Sofia cabe numa mala de rodinhas e numa mesa de tatuagem, desde que ela consiga arrastá-las sozinha por onde anda.
Premiado como o Melhor Primeiro Filme no festival FIDMarseille de 2023, “Sofia Foi” entrou em cartaz nesta quinta-feira, 19/09, em Belo Horizonte, Brasília, Campinas, João Pessoa, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, São Paulo, Teresina e Vitória.
Quem dirige
Nascido em Americana, interior paulista, Pedro Geraldo se formou em Cinema pela FAAP; Trabalhou como diretor de fotografia em diversos curtas e longas. Concluiu os cursos de pós-graduação em Discursos da Fotografia Contemporânea, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, e em Comunicação e Artes, na Universidade Nova de Lisboa. “Sofia Foi” é seu primeiro longa na direção.