A PIXAR CONSEGUIU NOVAMENTE: “WALL-E” É INTELIGENTE E ENCANTADOR.

Os primeiros trêileres de “Wall-E”, o novo desenho animado da Pixar Animation, não eram dos mais promissores. Mais um robozinho solitário perdido na Terra? Com voz e jeitão de “E.T.”, de Spielberg? O tema já não estaria desgastado? Grandes enganos! Com sua incrível capacidade de se superar a cada nova produção, o estúdio comandado por Steve Jobs acertou novamente. Wall-E é muito mais do que simplesmente “outro robozinho” de desenhos animados.

O simpático personagem na realidade é um “robô-lixeiro”, que tem por finalidade recolher, compactar e organizar incontáveis toneladas de lixo que nós, humanos, despejamos pelo nosso planeta nos últimos (e nos próximos) séculos. Graças ao nosso descaso consumista, a Terra ficou inabitável, os seres humanos se exilaram numa espécie de transatlântico espacial de luxo, e o trabalho – literalmente – sujo, ficou com o pobre Wall-E.

Os primeiros minutos do filme são um primor. Praticamente sem diálogos, explora-se com competência cinematográfica a consciente, assumida e extrema solidão do protagonista. Dia após dia, acompanhado apenas de uma baratinha de estimação, Wall-E cumpre sua rotina de recolher o lixo, compactá-lo, depositá-lo em gigantescas pilhas, recarregar suas baterias solares, dormir, acordar. Dá até a impressão que ele vai se encontrar com o personagem de Will Smith, em “Eu Sou a Lenda”, a qualquer momento. Metódico e nostálgico, o robozinho guarda para si pequenos objetos que curte colecionar, como brinquedinhos ou patinhos de borracha. Seu lazer é rever repetidamente antigos filmes musicais no vídeo cassete. Não, ele não tem DVD.

Até o dia em que um gigantesco foguete desce na Terra trazendo uma importante surpresa: a robô Eva, branca e luminosa, por quem Wall-E imediatamente se apaixona. E chega de contar história (mesmo porque até aqui o trailer já mostrou). E quem viu o trailer sequer imagina o que virá a seguir. Aliás, este é o principal diferencial da Pixar em relação aos seus concorrentes: roteiros fantasticamente inteligentes.

É inegável que a técnica dos desenhos da Pixar são de cair o queixo. Texturas, movimentos, cores, detalhes… nomeie o que quiser: eles dão um banho! Mas a técnica vazia, sem um bom roteiro por trás, acaba gerando filmes apenas bonitos, e que se tornam sonolentos logo em seus primeiros 15 minutos. Taí o Peter Jackson que não me deixa mentir. Não é o caso de “Wall-E”. O filme surpreende sempre, cria reviravoltas, desenvolve bem seus personagens, diverte, emociona e ainda por cima tece algumas críticas sociais que dificilmente são vistas em produtos distribuídos pela sempre comportada e politicamente correta Disney.

Por exemplo: no futuro, todos os seres humanos serão gordos, de baixíssima percepção do que ocorre ao redor, e não se comunicarão diretamente uns com os outros, preferindo fazer isso através de uma tela virtual. A nave que os transporta é comandada por um piloto automático, robô, que manda mais que o próprio capitão. Mesmo que o filme seja ambientado lá pelo ano 3 mil, esta realidade não parece muito distante.

Para os cinéfilos de carteirinha, uma atração a mais: um misto de referências que vão de “Metrópolis” a “1984”, de “Tempos Modernos” a “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, passando até por “THX-1138”. Um prato cheio.

Ah, e como se tudo isso não bastasse, antes do filme ainda passa um curta metragem hilariante sobre um coelhinho de mágico que briga com o seu “patrão” e se recusa a sair da cartola. Imperdível.