A POÉTICA TRANSGENERIDADE DE “GIRL”.

Por Celso Sabadin.

O jovem (28 anos) roteirista e diretor belga Lukas Dhont arriscou alto ao abordar a transgeneridade logo em seu primeiro longa metragem. Afinal, trata-se de um assunto delicado e sensível, com grande potencial de descambar para leituras equivocadas, até para cineastas mais experientes. Quanto mais para uma estreia. A boa notícia é que Dhont arriscou e ganhou: “Girl” trata o assunto com suavidade e total dignidade.

Não se trata exatamente de uma história real, mas a trama do filme nasceu de um artigo de jornal que o cineasta leu há cerca de 10 anos, sobre um jovem que se sentia aprisionado em seu corpo masculino, e desejava ser bailarina. A partir daí, Dhont e o também estreante roteirista Angelo Tijssens desenvolveram a história de Lara (Victor Polster), uma adolescente em processo de mudança de sexo, em fase de preparo para sua operação.

Além dos problemas que tamanha mudança implica, Lara ainda convive com as inseguranças da descoberta da própria sexualidade, da adolescência em si, e das dificuldades que enfrenta ao tentar se integrar definitivamente em uma exigente escola de ballet.

Para a escolha deste difícil papel principal, a produção do filme realizou testes com cerca de 500 atores adolescentes que tivessem noções de dança. Sem sucesso. A solução só veio com a mudança do foco das  audições, que passaram a selecionar bailarinos, e descobriu Victor Polster. Nesta sua primeira experiência no cinema, o rapaz já recebeu nove prêmios e indicações, incluído o troféu de melhor ator na mostra Um Certain Regard, em Cannes. No mesmo festival, “Girl” foi premiado com o Caméra d’Or, e com o Queer Palm, além de representar a Bélgica no Oscar.

Disponível no Netflix, “Girl” é sóbrio, forte e sensível.