A POLÍTICA DA ARTE NO MÁGICO E DELIRANTE “FRANCOFONIA”.

Por Celso Sabadin.

Um dia ainda vão descobrir que Alexandre Sokurov não é deste mundo. Que na verdade ele é um extraterrestre que filma tudo no seu mágico planeta distante, volta para a Terra, se fantasia de russo e lança sua obra por aqui. Caso contrário, como explicar o lirismo de suas imagens, o clima onírico que ele obtém com sua câmera, a densidade de suas cores, sua luz etérea, sua narrativa que parece vir diretamente de um sonho? Ou de um pesadelo?

Em sua nova obra – “Francofonia” – o ET Sokurov nos brinda novamente com seu cinema mágico. E vai buscar em fatos ocorridos 70 anos atrás traços da mais surpreendente contemporaneidade. Mesclando documentário, ficção e reconstituições, com direito a intervenções diretas do próprio diretor, “Francofonia” levanta instigantes questões sobre as relações entre arte, guerra e política. Para isso, vai buscar o icônico episódio da ocupação nazista sobre a França, durante a Segunda Guerra, investigando como a vasta coleção artística do Louvre foi administrada conjuntamente por um oficial alemão e o administrador do Museu. Pelo caminho, bate papos com Napoleão Bonaparte, com a República Francesa, e com o capitão de um navio carregado de obras de arte e que pode afundar a qualquer momento adicionam doses de sabor surrealista a todo o contexto.

Na última cena do filme, após ouvir uma série de verdades, um personagem diz, com desdém, diretamente a Sokurov: “Que delírio!”. A frase pode ser aplicada ao filme inteiro. E a todas as suas contundentes verdades.