A POTÊNCIA NARRATIVA DE “BACURAU”.

Por Teo Sabadin.

Eu assisti Bacurau dia 20 de agosto, uma terça-feira de manhã. O filme estreou dia 29. Agora, já em setembro, me sinto um pouco mais preparado para comentar, mas a realidade é que não sei o que dizer. Bacurau está impecável. Esta cidadezinha-protagonista tem uma potência narrativa enorme, alimentada por todos os moradores que compõe este grande personagem Bacurau.

A primeira cena representa o filme por inteiro: Estamos vagando pelo espaço, como em uma superprodução norte-americana, até que nos aproximamos da Terra aos poucos, como em uma superprodução norte-americana, então percebemos um foco no hemisfério Sul, Brasil… Nordeste e, enfim, Pernambuco. É a semente-bacurau sendo plantada.

A ficção acontece em um futuro próximo e beira uma grande distopia. Não vou me atentar ao enredo, porque assistir este filme sem conhecer a trama faz parte da experiência, porém é uma história sobre violência, visibilidade e resistência. Há críticas em nuances diversas que transparecem ao decorrer do filme. Enquanto vemos, por exemplo, alguns que clamam por formas de armar a população, os moradores de Bacurau entendem que lugar de armas é no museu, como entendem diversos outros valores morais e sociais que nós, sociedade evoluída e moderna, nem sequer conhecemos.

As personalidades da cidade se desenvolvem em conjunto, mutuamente, sem que nenhuma assuma o protagonismo da comunidade, sendo que, dentre os personagens, há atores e não-atores (moradores da região em Pernambuco) que fazem papéis excepcionais e trazem energia ao filme. Dentre as figuras que compõem Bacurau, algumas são muito ricas e potentes na narrativa, é o caso do repentista, que traz vida à cena em forma de improvisações musicais, o locutor amador, que acompanha os acontecimentos da cidade, e o prefeito impopular, que tenta conquistar o povo que ele tanto desama.
São muitas as camadas e pontos que merecem ser comentados em Bacurau, além de muitas as cenas que vejo e revejo durante os dias neste país. Em sua primeira semana, o filme levou 130 mil pessoas aos cinemas, estreando em 274 cidades e já arrecadou R$ 2 milhões. À toda a equipe: parabéns e obrigado.

E vida longa ao cinema brasileiro.