“A PRAIA DO FIM DO MUNDO” É AQUI.

Por Celso Sabadin.

Ciarema é uma praia que está desaparecendo do mapa por causa da deterioração do meio ambiente. Mas pode ser um país inteiro. Muito provavelmente é mesmo um país inteiro em processo de erosão física e moral.

Alice (Fátima Muniz) quer ir embora de Ciarema, mas sua mãe, Helena (Marcélia Cartaxo), ainda é fiel às suas raízes. Raízes fincadas na fragilidade de uma areia que não existe mais. De uma nação que desmorona diante dos olhos de todos.Enquanto isso, ronda por ali um homem misterioso. Um medo. Uma ameaça. Mais uma.

“A Praia do Fim do Mundo” somos todos nós. Alices querendo fugir misturadas a Helenas teimando em ficar. Desabrigados, foragidos e abandonados. Sem rumo.

Não por acaso o filme tem ao mesmo tempo um sedutor e assustador tom de misticismo, de alegoria, que se desenvolve em alta densidade enquanto o sertão vira mar. Os simbolismos visuais e sonoros proliferam em meio à destruição anunciada de maneira que eu não me surpreenderia se a própria morte em si emergisse das ondas, me propondo um jogo de xadrez.

A força do roteiro de Petrus Cariry e seu habitual colaborador, Firmino Holanda, é potencializada pelo show de fotografia que sempre caracteriza os filmes dirigidos por Cariry (“Mae e Filha”, “O Grão”, “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois”, etc).

Onírico, até hipnótico, “A Praia do Fim do Mundo” foi um fecho de ouro na Mostra Competitiva do 31º. Cine Ceará.