“A PRINCESA DAS OSTRAS”, A COREOGRAFIA DO PODER.

Por Celso Sabadin.

No mesmo ano em que lançou o delicioso “A Boneca do Amor”,  o sempre ácido Ernest Lubitsch apontou sua câmera ferina contra o casamento e contra a aristocracia em outra comédia com o típico sabor “lubitschiano: “A Princesa das Ostras”, de 1919.

Com roteiro do próprio diretor em parceria com Hanns Kräly, o filme fala de Ossi (Ossi Oswalda), a mimada filha de um mega milionário (Victor Janson), que ameaça – e cumpre – arrebentar tudo em sua mansão se seus desejos não forem satisfeitos.

O mais recente surto de Ossi é querer se casar. Imediatamente, e não importa o marido. Como sempre, a solução é “papai compra”. Porém, a agência de casamentos contratada pelo ricaço (uma espécie de Tinder de um século atrás) não é das mais profissionais, e acaba arranjando para a “princesa” um príncipe completamente falido. O que não é exatamente um problema para a noiva, mais interessada na festa de casamento que propriamente no noivo.

As situações que ocorrem a partir do mal-entendido não são tão interessantes e criativas como o entorno que as emoldura. Lubitsch cria em sua comédia uma verdadeira coreografia do poder e da opressão, colocando em cena verdadeiros exércitos de serviçais masculinos (quase todos negros) e femininos (estas sempre brancas), prestando os mais diversos tipos de vassalagem aos seus dois únicos patrões.

Uma crítica corrosiva aos abismos sociais daquela Alemanha pós Primeira Guerra (e que começava a ensaiar os primeiros passos rumo ao nazismo) edulcorada pelo tom cômico e por um incrível domínio de câmera e de cena.

Praticamente toda a equipe de ”A Princesa das Ostras”, estreado em junho, realizaria pouco depois “A Boneca do Amor”, que chegaria aos cinemas alemães em dezembro daquele mesmo 1919.