A Queda! As Últimas Horas de Hitler

Mais uma vez a polêmica é maior que o filme que a provoca. Assim como já aconteceu com A Paixão de Cristo, Closer – Perto Demais, Em Carne Viva e vários outros, o filme A Queda! As Últimas Horas de Hitler não é tão polêmico quanto as páginas e páginas de mídia publicadas no mundo inteiro fazem crer. Em outras palavras, relaxe: A Queda! não retrata um Hitler “humano” como foi alardeado. O roteiro explora mais um lado supostamente esquizofrênico do ditador nazista (muito bem interpretado por Bruno Ganz, de Pães e Tulipas), capaz de alternar seus conhecidos ataques histéricos (inesquecivelmente ridicularizados por Chaplin em O Grande Ditador) com momentos de pura cortesia para os seus subordinados. Capaz dos atos mais paradoxais, como suicidar-se ao lado da esposa, mas exigir fidelidade cega aos seus comandados, proibindo-lhes terminantemente de se renderem, mesmo após sua própria morte. Um homem obstinado em passar para a História, e orgulhoso pelo extermínio de judeus, o que considera o seu maior feito. Nada disso me parece “humanizar” o personagem.
Esteticamente falando, o filme segue uma linha cronológica e didática, quase burocrática, assemelhando-se a uma minissérie de TV condensada para o cinema. Se, artisticamente, esta opção estética faz de A Queda! um filme de poucos atrativos cinematográficos, por outro lado a direção aproxima a narrativa de um (falso) estilo documental, vendendo, assim, melhor a sua idéia.
O roteiro se baseia em dois livros: “Inside Hitler´s Bunker”, do historiador Joachim Fest, e “Bis Zur Letzten Stunde”, de Melissa Muller e Traudl Junge, esta última secretária particular de Hitler, interpretada no filme pela romena Alexandra Maria Lara. A ação se fixa nos últimos momentos do ditador, mais especificamente de 20 de abril a 2 de maio de 1945. Locações em São Petersburgo se converteram na Berlim do final da Guerra, e um minucioso trabalho de estúdio reconstituiu o mais próximo possível da realidade o que teria sido o bunker onde Hitler passou seus últimos dias. Para imitar a voz de seu personagem, Bruno Ganz não se baseou nos famosos discursos do líder nazista, mas sim na única fita – de poucos minutos de duração – que registra a voz normal de Hitler, numa conversa informal.
O diretor Oliver Hirschbiegel, o mesmo de A Experiência, pode não ter realizado uma obra genial, mas contou com a grande colaboração dos opositores do filme, que transformaram A Queda! de um trabalho apenas razoável numa acontecimento internacional de mídia. Sorte dele.