A REVOLUÇÃO SOLITÁRIA DE EMILY DICKINSON EM “ALÉM DAS PALAVRAS”.

Por Celso Sabadin.

Anda que ambientado no século retrasado, “Além das Palavras” aborda pelo menos dois temas dos mais atuais em todo o mundo até hoje: a resistência contra a opressão, e o empoderamento feminino. Tudo encarnado na personalidade da poetisa norte-americana Emily Dickinson (vivida por Cynthia Nixon), mulher à frente de seu tempo que viveu sua revolução particular praticamente sem sair de casa.

De família abastada, Emily rebelou-se contra as instituições e os comportamentos cristalizados de sua época empreendendo uma solitária jornada de isolamento. Tentou a vida religiosa, mas sua personalidade forte não a permitia se ajoelhar, muito menos se humilhar perante nenhum tipo de Deus. No convívio social, fugia de sua compreensão a falsidade das convenções que estabeleceram o mito da superioridade masculina. Restava-lhe a poesia, à qual se dedicou vorazmente, mesmo sendo obrigada a se submeter não apenas aos humores de seu editor, como também aos horários que seu pai (Keith Carradine) lhe permitia escrever. Num mundo dominado pela prepotência masculina, Emily Dickinson apoiou-se na força da expressão artística, pagando para isso o pesado preço da solidão e do isolamento. Nem ela estava preparada para o mundo, nem o mundo estava preparado para ela. E talvez ainda não esteja.

Esta história é contada em “Além das Palavras” através da direção segura e elegante do inglês Terence Davies (o mesmo de “Vozes Distantes”), também autor do roteiro, que prioriza deliciosos diálogos repletos de sarcasmo e fina ironia. Coproduzido por Inglaterra e Bélgica, o filme acerta ao evitar julgamentos e maniqueísmos, e extrai ótimas interpretações do afinado elenco.

A estreia é nesta quinta, 27 de abril.