A SELVAGERIA PRIMITIVA DE “MONOS”

Por Celso Sabadin.

Uma verdadeira força-tarefa multinacional foi reunida para a viabilização de “Monos”. Produtoras e fundos cinematográficos da Colômbia, Argentina, Holanda, Alemanha, Suécia, Uruguai, EUA, Suíça, Dinamarca e França se cotizaram para contar esta vigorosa história de um grupo guerrilheiro colombiano totalmente formado por adolescentes. Isso sem falar que seu diretor – Alejandro Landes – filho de mãe colombiana e pai equatoriano, nasceu em São Paulo.

O filme não se preocupa em situar quanto há de real e quanto há de ficcional em seu roteiro, escrito pelo próprio diretor em parceria com o argentino Alexis dos Santos. E nem seria o caso. Ainda que haja referências à obra “O Senhor das Moscas”, de William Golding, “Monos” é intenso ao mostrar que – independente de contextualizações históricas – a selvageria reflete o real e o contemporâneo. Seja nas FARC colombianas ou não.

Garotos e garotas na faixa dos 15 anos protagonizam esta trama radical e primitiva que se inicia no inalcançável topo de uma montanha e se desenrola por rios e matas de uma Colômbia desconhecida. Imaturo, fortemente armado, violento, infantilizado, mal liderado e letal, o grupo parece um amontoado de filhos do Bolsonaro. O objetivo é manter em razoáveis condições de vida uma diplomata estrangeira sequestrada pelas milícias. Função nada fácil para quem não sabe sequer cuidar da própria vida.

Além da violência selvagem e da rusticidade das relações humanas, “Monos” chama a atenção pela beleza das paisagens colombianas que – nos informa o press-release – eram até bem pouco tempo atrás zonas dominadas pelas guerrilhas e, consequentemente, sem acesso ao público. Daí o espetacular estado natural de sua conservação.

Candidato da Colômbia ao Oscar 2020, “Monos” estreou no Festival de Sundance em janeiro de 2019, e de lá para cá tem colecionado prêmios (como no Festival Internacional de San Sebastián) e despertado discussões. O elenco é composto por atores e atrizes experientes como Moises Arías (“Hannah Montana”) e Julianne Nicholson (“Eu, Tonya”), e jovens estreantes. O personagem Rambo é interpretado por uma garota, Sofia Buenaventura, e, o diretor explica que, originalmente, deveria ser um rapaz, mas no processo de seleção isso se mostrou desimportante. “Ao assistir mais de 800 testes, percebemos que nos tornamos cegos ao gênero [sexual] do personagem. Os gêneros não são claros na história, e isso não é importante para a linguagem”.

“Monos” já está em cartaz nos cinemas brasileiros.